Depois de cerca de dois anos cogitando fechar a “perna” do hemisfério norte para o desafio Grande Cacique Fazedor de Neve, buscando informações para formatar um planejamento que pudesse me mostrar que seria exequível, finalmente, em outubro de 2023, tomei a decisão de tentar enfrentar esse desafio e comecei efetivamente a colocar em prática algumas ações.
Algumas provocações subliminares contribuíram para essa decisão... Hehehe
E, para relatar esse desafio inédito, faz-se necessário voltar um pouco ao tempo. No ano de 2011, eu e o Brother Edson Steglich iniciamos uma grande aventura, com alguns objetivos públicos e outros nem tanto...
Partimos de Santa Maria, RS, com destino ao Alaska, USA, onde tentaríamos chegar até Prudhoe Bay, junto ao Oceano Ártico, sendo esse o foco principal, e, se possível, percorrer toda a Route 66.
Um dos objetivos não compartilhados na época, foi se conseguíssemos chegar a Prudhoe Bay, no Alaska, partiríamos de lá com destino a Ushuaia, extremo Sul da Argentina, sem escala no Brasil. O segundo objetivo não revelado foi a realização da travessia dos USA, partindo da costa leste, para alcançar Prudhoe Bay, na costa oeste.
Assim, contornamos todo o Golfo do México, desde Cancún até Key West, na Flórida, de onde partimos dia 11/06/2011, para cortar os USA e chegar a Prudhoe Bay, Alaska, dia 10/07/2011, completando o desafio Coast to Coast Challenge, em menos de 30 dias, de Key West, FL até Prudhoe Bay, Alaska.
Com o objetivo alcançado, era o momento de começarmos o retorno, que seria sem escala, esticando até Ushuaia, antes de chegarmos a Santa Maria, RS.
Partimos de Prudhoe Bay, no dia 11/07/2011, com chuva.
No curso da viagem, quando estávamos realizando a travessia da Route 66, partindo do Pier Santa Mônica, em Los Angeles, começamos a trocar ideia que seria bacana se conseguíssemos chegar a Santa Maria, durante o evento do Mercocycle, que é promovido e realizado todos os anos pela Associação Motociclística Gaudérios do Asfalto - AMGA, em Santa Maria.
Quando estávamos no Estado de Utah, comecei a fazer algumas projeções e cálculos, e verifiquei que teríamos de sacrificar alguma parte do roteiro. Ao chegarmos ao Estado de Oklahoma, decidimos ir até Ushuaia, deixando a Route 66 para outro momento. Viramos para o Sul, em direção ao Texas, para atravessar a fronteira com o México, por Laredo.
Nós já havíamos ido até Ushuaia duas vezes, em 2004 e 2008, mas essa seria nossa grande jornada, Alaska a Ushuaia.
A família e os amigos só ficaram sabendo que desceríamos até Ushuaia quando seguimos em frente na Ruta 5, Panamericana, ao passarmos pela região do Atacama, Norte do Chile. Foi um momento de alegria e tristeza, mas o espírito aventureiro surgiu e decidiu.
Esse é o recorte dessa grande aventura, que acabaria proporcionando nossa chegada à Terra do Fogo, Ushuaia, Argentina, no período hábil para esse desafio do GCFN.
Após descermos praticamente toda a Ruta 5, no Chile, viramos para a esquerda após Temuco, passando por Pucón, para chegar à Argentina, pelo Paso Mamuil Malal, e nos depararmos com o Vulcão Lanín, magnificamente coberto de branco. Espetacular!
Depois, foi chegar até a Ruta 40 e seguir até pouco adiante de Gobernador Costa, onde pegamos a Ruta 26, que nos levou até Comodoro Rivadavia, na Ruta 3, que nos esperava para nos acompanhar até o nosso destino no extremo sul da Patagônia.
O frio já nos fazia rodar em velocidade moderada, além de termos de aumentar as camadas de roupas internas.
As retas infindáveis davam o tom do cenário dos campos típicos e gelados da Patagônia, com destaque para os guanacos, que, como sentinela daquelas paragens, se posicionavam nos pontos mais elevados, atentos a todos os movimentos de intrusos e alguns insanos. Momentos de contemplar e fotografar os belos cenários.
Já, na travessia do Estreito de Magalhães, se pôde sentir o maior rigor da temperatura. Decidimos nos refugiar do frio na Hosteria Tunkelén, em Cerro Sombreiro. Sempre muito aconchegante.
Ao amanhecer, já sentimos a baixa temperatura pelo acúmulo de gelo na moto, que ficara sem abrigo. Depois foi enfrentar a ruta de rípio no Chile, pois no subir e descer das muitas colinas, ao longo do caminho, o frio me castigava de forma insuportável nas mãos e pés. Por várias vezes, tive de parar para aquecer as mãos no motor da moto ou aquecer com água quente nas estações de serviços.
As paisagens eram estupendas! Os tropeiros conduzindo centenas e centenas de ovelhas pelas rutas e campos, cenas que amenizavam as dores impostas pelo frio impiedoso, confortando a alma e alegrando nosso pensamento, no isolamento voluntário do capacete, naquela inóspita Tierra del Fuego. Cheguei a pensar que seria mais apropriado chamar de Tierra de Hielo.
Ao avançarmos pela Ruta 3, já em território argentino novamente, chegando a cerca de Tolhuin, fomos abençoados com um visual magnifico. É onde a Cordilheira dos Andes faz a curva para se aproximar do Atlântico. Ela se mostrava completamente branca, impondo-nos momentos de medo, preocupação e cautela para enfrentar o Paso Garibaldi, ponto mais alto, onde a temperatura congelante me fez padecer de frio, como o morador de rua padece nas noites frias de inverno.
Ao mergulhar pelo interior das montanhas brancas, assustadoras, face à minha pequenez e fragilidade física, deparo-me com os campos, outrora fotografados em tons verde e amarelo, completamente brancos, parecendo um campo de gelo. Magnífico!
Fui tomado por uma sensação, de certo modo, dicotômica, de euforia e de medo. Euforia, por estar ali, naquele momento, em um cenário impressionante e belíssimo. Medo, pois já não tinha mais tato nos dedos das mãos. Estavam congelados.
E, no dia 27 de setembro de 2011, foi o calor humano da recepção fraterna e carinhosa de amigos que cultivamos em Ushuaia, que nos aguardavam no pórtico de entrada da cidade, um dos marcos mundialmente conhecido, com um providencial café quente e biscoito, que chegamos para concluir a travessia da Terra do Fogo.
Foi uma chegada e uma conquista inesquecíveis, não pelo feito, mas pela alegria e conforto de termos amigos distantes vibrando, de ver nos olhos e sentir seus corações em compasso acelerado, em sintonia com nossos sentimentos. A verdadeira união de irmãos de alma.
E, a noite foi reservada para comemorar e “charlar” até a madrugada, no aconchego fraterno da casa do meu amigo Oscar (In Memoriam) e Sônia. Descontração, alegria, risos largos e harmonia, que acabei esquecendo que estava com os dedos congelados.
Mesmo com o frio que me aterrorizava, fomos fazer algumas fotos pela cidade e Parque Lapataia. Ainda, naquela tarde, refugiamo-nos com os amigos no Tante Sara Café, para nos aquecer com chá e continuar a boa conversa. E foi, nesse momento, que conheci o Carlito, o garçom que nos atendeu, motociclista e amigo dos meus amigos. Uma grande e nova amizade se iniciava naquele momento, pois, ao ouvir nossas histórias, ficou impressionado a ponto de começar a sonhar em realizar essa viagem ao Alaska.
Eu, como já havia alcançado os louros da vitória, disse a ele que deveria ir, que jamais se arrependeria, que bastava ter vontade, querer conhecer e partir. Coloquei-me a disposição para ajudá-lo no planejamento e também viabilizar a compra de uma moto nos USA.
Bem, o final dessa longa e incrível história será devidamente reportada em momento oportuno. Mas, vos asseguro, é uma bela e magnífica história.
Após uma boa revisão das motos, realizada pelo Mestre e amigo Oscar, preparamo-nos para partir no dia seguinte.
A passagem pelo Paso Garibaldi, pela manhã, foi, mais uma vez, terrivelmente fria. Mas estávamos voltando para casa, para o aconchego da família e, de quebra, tentando chegar durante o evento do Mercocycle.
O frio não nos deu trégua, mas o vento patagônico foi camarada e se escondeu atrás da cordilheira. Ufa!
A viagem para casa transcorria de forma tranquila, pois, a cada quilômetro rodado em direção norte, parecia mais confortável até que, enquanto abastecíamos as motos em Trelew, o Edson observou que o cabo do acelerador estava com apenas dois fios de aço na espia. A minha supressa foi quando ele disse que daria para chegar até Buenos Aires, onde faríamos mais uma revisão programada.
Estávamos a mais de um mil quilômetro de distância e argumentei que não sairia para a estrada nessas condições, pois tínhamos data para chegar à Concessionária em Buenos Aires. Logo chegou um carro policial e perguntei se poderia nos indicar uma oficina mecânica. Ele comentou que, por ser sábado, já estavam fechando naquele horário. O policial ligou para uma revenda de motos de um amigo e pediu que o mecânico nos aguardasse, pois estaria nos levando até lá.
Mais uma vez, os Anjos de Guarda em ação. Em uma revenda de motos pequenas, o mecânico adaptou um cabo novo, de uma moto de 150 cc. Ficou tão perfeito, que o Edson não trocou na revisão.
E, assim, após a revisão das motos em Buenos Aires, fomos chegando mais perto do Brasil, pernoitando em San José, no Uruguai.
Nossa chegada foi muito emocionante, pois, ainda no Uruguai, nas proximidades de Tacuarembó, fomos recepcionados pelos Irmãos Cunha (In Memoriam) e Sendtko. E já começamos a comemorar em Rivera, comendo um assado de tiras.
Pouco antes de Santa Maria, uns 30 km de distância, nos aguardava à beira da estrada, um grupo de amigos dos Gaudérios do Asfalto. Outro momento de muita alegria, que foi elevado à terceira potência, quando, na entrada da cidade, as nossas esposas nos aguardavam para nos abraçar e nos receber com carinho, assim como a saudade que o tempo fez brotar em nossos corações. Abraços e beijos foram confortantes e selaram, mais uma vez, o amor que nos une.
A chegada ao evento do Mercocycle foi apoteótica, pois todos pararam para nos recepcionar, aplaudir e nos oferecer um abraço pela conquista histórica. Cada abraço recebido e palavras amáveis ainda estão em nossos corações e memórias.
Sobre essa longa jornada, a história completa será contada em livro, que já foi iniciado, mas, devido a uma situação de saúde do escrevinhador, foi interrompida. Espero em breve fazer uma parada nas viagens, para concluir o livro dessa aventura memorável.
Depois dessa retrospectiva, onde a parte do Hemisfério Sul – Tierra del Fuego, Argentina foi realizada, chegou o momento de tentar realizar a parte Norte – Alaska, Estados Unidos da América.
Inicialmente, convidei o Brother Edson Steglich, que foi comigo em 2011 ao Alaska. Ele declinou do convite.
Na viagem que fiz com o Steglich para Fortaleza em julho de 2023, convidei o Brother Adilson Castilho, também parceiro de viagem de longa data, que está residindo por lá. Sabia que pretendia completar a viagem a Prudhoe Bay, que fez com Nara na garupa, mas teve de interromper quando chegou ao Círculo Polar Ártico. Ele ficou interessado, passei algumas informações sobre as regras do desafio e ficamos de conversar na sequência.
Em outubro, eu o provoquei novamente e fizemos uma vídeo chamada, passei minhas ideias e tudo que eu havia juntado de informações. Ele, no mesmo dia, “bateu o martelo”. Estava junto!
Bem, fomos afinando, ajustando o planejamento e buscando mais informações, que são poucas, ou eu não soube buscar. Hehehe
Sugeri um roteiro básico para o mês de abril e passamos a buscar moto para alugar nas locadoras existentes em Fairbanks e Anchorage, passagens aéreas e equipamentos.
Inicialmente, definimos que alugaríamos duas motos para fazer o desafio. As respostas das locadoras, em Fairbanks e mesmo em Anchorage, informavam que fecham as atividades nesse período e não locam motos antes de 20 de maio.
Criado o primeiro impasse, buscamos alternativas, inclusive, comprar moto ou locar em Seattle.
Com nossas buscas e informações com amigos, conseguimos locar em Fairbanks, que era nosso plano “A”.
Pouco antes de fecharmos a locação, em uma madrugada de pesquisas, meditações, preocupações, medo, prudência e responsabilidade, surgiu a ideia de locarmos apenas uma motocicleta, e, com o custo da outra moto, locar uma camioneta para dispormos de apoio imediato em caso de algum acidente.
Desafios nos movem, nos fortalecem, nos ensinam, nos instigam a reflexões, e, muitas vezes, contribuem para nosso desenvolvimento, especialmente para compreender o sentido da vida, mas nossa segurança jamais pode ser esquecida. Assim penso.
De pronto, o Castilho concordou com a ideia e fomos ajustando os outros detalhes da viagem.
Situação da moto definida, o passo seguinte era comprar as passagens aéreas até Fairbanks, no Alaska, onde elegemos como nossa base.
Quando estávamos definindo a compra das passagens aéreas em uma chamada por vídeo, o Castilho consultou o amigo Sérgio Amora. Ele manifestou vontade de conhecer o Alaska e ir junto, mas não pretendia pilotar moto.
Bem, esse é um capítulo muito bacana, pois estava se agregando, ao grupo, um novo amigo, uma pessoa especial, de muito conhecimento e habilidade, que nos ajudou muito em nossa aventura pelo Alaska.
Para começar, disponibilizou seu endereço em Miami, para receber nossas compras de equipamentos que realizamos pela internet.
Tudo alinhado, ao menos o que nos parecia essencial, mas sabíamos que, chegando ao terreno, teríamos ajustes a realizar.
Parti de Itajaí, SC, dia 03 de abril de 2024 para Fortaleza, para afinar alguns detalhes com o Castilho, para, dia 05, embarcarmos para Miami, onde o amigo Sérgio Amora já nos aguardava.
Ficamos 3 dias em Miami, verificando roupas e os equipamentos que havíamos comprados com apoio do Sérgio. Esse tempo também foi interessante para conviver e trocar experiências com o Sérgio, que já é amigo de longa data do Castilho.
Reunido o grupo de viagem, partimos dia 09 para Fairbanks, com uma rápida escala em Seattle. Chegamos às 2 horas, do dia 10, em Fairbanks. Como informamos o hotel para nosso check in nesse horário, não tivemos dificuldades.
Descansamos e, ainda, pela manhã, fomos pegar a camioneta locada que usaríamos para apoio de eventual socorro imediato, transporte de bagagem, gasolina e ferramental.
O amigo Sérgio, por estar legalizado com identidade americana, agilizou muito os trâmites da locação.
A previsão de pegarmos a moto estava prevista para o dia 12, mas, como tudo estava se encaminhando bem, resolvemos fazer uma visita ao Collin, da Arctic Moto Adventures para conhecermos a moto, uma Teneré 700. Moto essa, que foi meu sonho mesmo antes de seu lançamento na Europa.
Cabe registrar que a moto estava exatamente como prometida, impecável, pneus novos, com equipamentos colocados especialmente para nossa aventura, como parabrisa mais alto, protetores de manete, de carenagem, pedaleiras especiais, entre outros. Também estava pronta, uma caixa com ferramentas, peças de reposição, compressor de ar, studs (cravos) para os pneus, parafusadeira de baixa rotação e uma boa capa de proteção para a moto.
O Collin foi muito simpático, embora tenha nos chamado de crazy, o que nos permitiu ousar e perguntar se poderia antecipar para o dia 11 a entrega da moto, pois facilitaria nosso planejamento para o desafio.
Ele anuiu de pronto, e assim antecipamos nossa partida para Alcan Border, na divisa com o Canadá, para o dia 12 de abril.
Desde o princípio da ideia de locar apenas uma moto, acordamos que eu pilotaria, por primeiro, e o Castilho pilotaria no retorno de Alcan Border e Prudhoe Bay, uma vez que o desafio prevê que o piloto deve cruzar todo o Estado do Alaska, da fronteira com o Canadá até Prudhoe Bay, ou sentido inverso.
Tudo preparado, e com as informações que conseguimos nas pesquisas via internet em Fairbanks, entendemos que dificilmente enfrentaríamos gelo na estrada para Alcan Border, mesmo tendo que cruzar as montanhas existentes nesse trecho, decidimos não colocar os studs (cravos) nos pneus.
Quando acordamos, dia 12, com tudo preparado para dar início ao desafio Grande Cacique Fazedor de Neve, ao abrir a cortina do quarto, por volta das 7 horas, já percebemos que realmente faríamos jus ao título de Fazedor de Neve, pois amanheceu nevando em Fairbanks, e a previsão informava que persistiria até às 10 horas. Mesmo com essa previsão, fomos tomar o café, mas com um olho nos aplicativos de previsões do clima.
Por volta das 10 horas, parou de nevar. Estávamos preparados mentalmente e com os equipamentos prontos, foi só pegar a moto que estava em frente à garagem do hotel com sua capa de proteção coberta de neve.
Tudo à volta que tinha um resquício de terra, barro, concreto, asfalto ou telhado, estava branco. O visual generosamente se mostrava lindo, mas a animação já abria espaço a um ar mais moderado e cauteloso.
A moto não se acovardou para o frio, e, ao dar partida, de pronto, fez soar o ronco do motor tão afinado, que nos passou energia e confiança.
Abastecemos bem próximo ao hotel, com as ruas praticamente brancas, apenas os trilhos dos carros, na pista, se mostravam pretos.
Segui a camioneta até alcançar a estrada, quando, então, passei à frente para dar o tom da tocada, sempre observando os limites de velocidade permitidos e o termômetro que indicava 5 graus negativos.
A primeira parada foi na Santa Claus House, distante umas 15 milhas. Fotos, uso dos sanitários e uma rápida visita, pois combinamos de realizar as compras no retorno.
Cabe referir que na partida decidi utilizar a roupa tradicional de moto, impermeável, com forro para frio e mais 3 camadas de roupa, para ter uma ideia de como seria enfrentar o frio alasquiano.
Pouco antes das 14 horas, realizamos um pit stop em Delta Junction para fazer um lanche e eu tomar um café, pois o frio já se fazia sentir nos ossos.
A estrada estava limpa, com neve ao longo do acostamento, mas praticamente todos os rios congelados e regiões de montanhas nevadas. Visual magnífico que nos fazia sentir felicidade de estar ali vivendo aquele momento, mas também alguma apreensão por saber que teríamos regiões de montanhas a enfrentar, logo à frente.
A próxima parada foi em Tok, abastecemos a moto e tomamos mais um café com um pequeno lanche. O Sérgio não é adepto do café e preferiu tomar um suco.
A temperatura marcava 5 a 6 graus negativos, dia nublado, final de tarde, sensação térmica em torno de 10 a 12 graus negativos, quando se está pilotando por longo período. Então o frio começa a castigar o esqueleto do piloto Sênior, e não hesitei em vestir o macacão que suporta 46 graus negativos, comprado especialmente para essa aventura. Pilotar de Fairbanks até Tok foi o limite que suportei, do frio, sem o macacão.
As paisagens, a cada milha percorrida, se mostravam incríveis, com neve na borda da pista, pinheiros ao longo da estrada, e, no horizonte, montanhas completamente nevadas. Impossível não parar para uma fotografia, quando se está devidamente protegido do frio.
Antes da divisa do Alaska com o Canadá, passamos pela Aduana sem controle, para saída e, logo adiante, creio que menos de uma milha, chegamos a placa tão almejada por muitos motociclistas para foto. Welcome to Alaska!
Moto à frente da placa, com alguma neve no entorno, tratei logo de registrar com fotos, muitas...
Momento especial, mas não tive muito tempo para comemorar, pois já se aproximava das 20 horas, e o Castilho precisava colocar a roupa e se equipar, pois a ideia era tentar pernoitar em um hotel distante umas 18 milhas, ou teríamos que retornar até Tok.
Brother Castilho já equipado, começamos o retorno a Fairbanks, agora ele pilotando e eu na camioneta como suporte. Ele sai na frente, devagar para se adaptar à moto e tentar rodar com a luz do dia, o máximo possível, enquanto ficamos organizando as roupas e equipamentos.
Na passagem pela Aduana, entrando no Alaska, o primeiro contratempo. Quando chegamos à Aduana, que tem dois pontos de barreiras com semáforo e placas, o Castilho se equivocou e interpretou que poderia passar direto, mas foi barrado logo após o segundo semáforo. Ao chegarmos à Aduana, tudo se resolveu com o auxílio do amigo Sérgio.
O Castilho saiu na frente e se desgarrou um pouco, aproveitando o entardecer que se mostrava espetacular no horizonte, com uma faixa vermelha a nos brindar por longo tempo, para apreciarmos o esplendor do final do dia alasquiano. Belíssimo!
O hotel, existente na região de Alcan Border estava fechado para reforma e tivemos que seguir até Tok.
A tocada do Castilho foi mais forte, mas não o suficiente para escapar da noite, que passou a castigá-lo com um frio mais intenso.
Chegamos a Tok, passado das 21 h 30 min, o Castilho com as mãos e os pés congelados. O frio, à noite, realmente se torna mais exagerado.
Ele não conseguiu utilizar as Hand Covers (capas de mãos para moto), que ficaram muito apertadas com as luvas para extremo frio da BMW Motorrad, e os hand warmer (aquecedor de mãos) da HotHands não foram suficientes.
Igualmente, os insole foot wamers (palmilhas aquecedoras de pés) da The Heat não foram suficientes para manter os pés aquecidos com a bota Santiago da BMW Motorrad.
Conseguimos nos hospedar no Tree Bears Tok Motel, muito aconchegante, e, logo após um merecido banho quente, estávamos todos recompostos, mas o Castilho precisou de uma dose do seu whisky Jack Daniels, enquanto eu me contive com meia dose!
Dia 13, abastecemos a moto e a camioneta e partimos às 8 h 30 min para Fairbanks, com o dia carrancudo e temperatura de 6 graus negativos. Ao nos aproximáramos da região de Tanacross, o tempo foi se fechando para os aventureiros e começou a nevar de leve. Eu e o Sérgio pedíamos ao Altíssimo que a situação não se agravasse, pois o Castilho pilotava sem os studs nos pneus.
Na travessia do Robertson River, que estava completamente congelado, já começamos a encontrar o acúmulo de neve na pista. Mas foi entre Dot Lake e Dry Creek que a neve foi mais intensa, ao ponto de acumular uma camada de neve na pista.
Minha preocupação se acentuou e nos restou enviar boas energias ao Castilho que pilotava a moto. Ele procurava alguns trilhos que se abriam com o trânsito dos carros, mas, em alguns pontos mais elevados, se observava que a nevasca da noite havia sido intensa. As fotos vídeos ficaram bacanas, mas essa primeira experiência não foi animadora.
Logo após a travessia da ponte sobre o Gerstle River, a pista ficou limpa, e o Castilho fez um pit stop em uma área de estacionamento. Estava exausto e com muito frio nas mãos e pés. As botas tinham uma crosta de gelo na biqueira, onde a água espraiada da roda dianteira congelava. Havia crostas de gelo no paralama, bengalas, frente dos alforjes e, incrivelmente, a água, que batia nos raios, congelava.
Ele aplicou uma ou duas injeções (cigarros), retiramos o gelo das botas e continuamos até Delta Junction, onde abastecemos a moto e novamente tomamos um café com um lanche leve.
Depois de Delta Junction, o meu telefone voltou a ter sinal e recebi uma mensagem do Cláudio, brasileiro que mora no Alaska, dando conta de que não conseguiu falar com seus contatos caminhoneiros, para saber das condições da Dalton Highway até Prudhoe Bay.
Novo pit stop na Santa Claus House, onde aproveitamos para comprar pequenas lembranças e chegamos a Fairbanks por volta das 16 horas.
Abastecemos a moto e a camioneta antes de voltarmos para o hotel, mas eu já tinha, no meu pensamento, que não iniciaríamos o deslocamento para Prudhoe Bay sem resolver duas questões: a primeira era comprar um Hand Covers de tamanho maior, para que o Castilho pudesse utilizar. Eu também não pilotei com segurança, pois, embora o que compramos fosse de boa qualidade, era pequeno e dificultava o acesso aos comandos, trazendo insegurança para pilotar. Tema resolvido com apoio do Collin;
a segunda era o aquecimento dos pés. O trecho para Prudhoe Bay seria desafiador, pois as previsões se mantinham com baixas temperaturas e nevascas temperadas com ventos.
Fomos até a Loja Rei e compramos uma bota que suporta temperaturas negativas extremas, com a possibilidade de trocarmos por outros artigos, no nosso retorno, pois não teria outra utilidade para nós.
Às 13 h 55 min, recebi a seguinte mensagem do Claudio. “Bom dia. A resposta que recebi foi: Todos os dias congela e descongela. É escorregadio. Use cravos. “
Eu não me surpreendi, pois ele já havia feito referência que o gelo começa desde perto de Fairbanks por causa do aumento da altitude. E ele conhece a região, pois trabalhou com carro de segurança dos caminhoneiros que vão para Prudhoe Bay.
No final do dia, eu e o Castilho fomos ao encontro do Claudio para conhecer e agradecer pessoalmente, o auxílio com as informações que nos alcançou.
Orientou-nos, ainda, sobre os costumes e visão dos caminhoneiros sobre a Dalton Highway, uma estrada essencialmente de trabalho.
No final da tarde, conseguimos uma garagem com a dona do hotel, para que pudéssemos nos abrigar do frio e colocarmos os studs nos pneus da moto. O amigo Sérgio foi fantástico, com sua habilidade e espírito de equipe, pegou a parafusadeira e não largou mais até colocar o último studs. Fenomenal!
Também o Sérgio regulou o pedal de troca de marchas, para a bota de extremo frio que compramos. Fiz um teste com a bota nas imediações, e não gostei, pois dificultava para fazer o câmbio das marchas, a sola é muito alta. Eu seguiria utilizando a outra bota com os insole foot wamers.
Voltei do teste convicto de que preferia sentir um pouco de frio nos pés, e não correr o risco de pilotar sem segurança em uma estrada que poderia enfrentar pista com neve e gelo. Mesmo assim, levamos as botas na camioneta.
Cabe referir que, ao alugarmos a camioneta, declaramos que nosso deslocamento incluiria Prudhoe Bay e solicitamos pneus com studs para rodar na neve.
Tudo pronto, tratamos de preparar os equipamentos para partirmos no dia seguinte até Coldfoot.
Dia 15, segunda-feira. Após tomarmos o café da manhã, com a camioneta pronta, por volta das 9 horas, voltamos à estrada para enfrentar a desafiante Dalton Highway. Os primeiros quilômetros foram de cautela, pilotar a moto equipada com studs nos pneus, em meio ao tráfego da cidade, pela primeira vez, exigia esse cuidado.
A moto transmitia a impressão de que iria escorregar no asfalto a qualquer momento, especialmente para virar à esquerda ou à direita. Aos poucos se pega o jeito e nem lembramos que estamos usando os studs.
Percorremos a Elliott Highway até o entroncamento com a Dalton Highway. Paisagens estonteantes a cada curva e a cada aclive ou declive nas montanhas. Imagens que só havia experimentado em fotos e filmes. Como a altitude vai se alternando em razão do relevo montanhoso, a expectativa era sempre encontrar um visual mais bonito a cada milha percorrida. A estrada estava em boas condições de trafegabilidade quanto ao pavimento de asfalto.
Ao iniciar a rodar na Dalton Highway, temível por muitos e cobiçada para outros tantos, tive o sentimento de que, nesse instante realmente, se iniciava o desafio do Grande Cacique Fazedor de Neve, talvez por ser uma estrada mítica e desejada por grande parte da comunidade motociclista.
Logo, no início, deparamo-nos com a tradicional placa, “Welcome to the Dalton Hghway”. Parada obrigatória para o devido registro fotográfico, mas, também, para movimentar um pouco a musculatura, que vai se contraindo, sem percebermos, em uma pilotagem com temperatura hostil e sensação térmica no alto da montanha que beirava a casa dos 12 graus negativos.
Paradas que sempre geram um clima de descontração, mas, também, palavras de apoio, incentivo e motivação por parte dos amigos Castilho e Sérgio, que vibravam com a pilotagem que acompanhavam a sua frente.
A Dalton Highway passa a se alternar com trechos de um tipo de terra com pedriscos, muito bem compactados, e trechos de asfalto até Coldfoot. Muitos quilômetros de asfalto em relação ao ano de 2011.
Por volta das 14 h 30 min, aproveitando um alargamento da pista, parei para reabastecer a moto com o combustível reserva que levávamos na Dodge RAM. Trabalho, esse, realizado pela equipe.
O cenário continuava belíssimo e, ao nos aproximarmos do Yukon River, mesmo a distância, era possível ver toda a sua imensidão e completamente congelado, um espetáculo de fitar os olhos naquele cenário.
Parei a moto, logo após a ponte, pois sabia da existência de ser um ponto de apoio. Acabei deixando-a à beira da estrada, pois o acesso estava com muito gelo e poças de água do degelo. Só abastecemos a camioneta e o galão reserva para a moto, tomamos um café rápido, pois o atendimento da Senhorinha não foi muito amistoso com o Brother Castilho. Hehehe
Seguimos para alcançar o Arctic Circle, sempre com a estrada em boas condições, sem buracos, alternando com trechos de asfalto, com neve e gelo na pista, ou, raramente, uma camada fina de lama, em razão do degelo. A Trans-Alaska Pipeline nos acompanhava, ora de um lado, ora de outro, na Dalton Highway, como um guia ou apenas uma companhia a testemunhar nossa insana aventura.
Toda essa região estava completamente tomada pelo gelo. Um verdadeiro sorvete branco, difícil de caminhar e muito difícil pilotar uma moto. Não tive mais dúvidas de que os studs eram essenciais, mas a sensibilidade da mão do piloto faria toda a diferença para manter a motoca na posição vertical.
À medida que avançávamos e nos deparávamos com gelo e neve na pista, íamos adquirindo experiência e relaxando um pouco, diminuindo a tensão e o medo, para quem vivenciava, pela primeira vez, pilotar uma moto naquelas condições.
Registros fotográficos realizados, retornamos à estrada para as últimas 60 milhas até Coldfoot, nosso destino do dia.
A Dalton Highway continuava a se apresentar da mesma forma, com gelo ou neve nos trechos de montanhas mais elevados e muito sinuosa.
O respeito aos caminhoneiros foi constante, sempre encostava a moto quando se aproximava um caminhão, com a manobra do Sérgio na Dodge RAM, posicionando à minha frente ou na traseira, dependo do sentido do caminhão, para me proteger e dar mais visibilidade aos motoristas, que, via de regra, agradeciam com cumprimento.
Os caminhoneiros usam o único trilho, que existe nessa época do ano, e não diminuem a velocidade, pois precisam aproveitá-la na descida para subir os aclives da Dalton Highway.
Algumas milhas antes de Coldfoot, não se avistava nada além de neve. A pista ficou bem difícil, eu passei a pilotar a 20/25 milhas/h, com mão suave no acelerador.
Máquinas na pista removendo a neve, em meio à circulação de muitos caminhões, pois Coldfoot é o principal ponto de apoio entre Fairbanks e Prudhoe Bay.
Não tive dúvidas de que havia nevado naquele dia ou noite anterior conforme as previsões indicavam.
Para chegarmos ao restaurante, foi necessário atravessar um verdadeiro lago de degelo. Segui exatamente o caminho de uma roda da camioneta, para evitar alguma surpresa. Seguramente tinha, aproximadamente, 40 cm de profundidade e foi tenso até parar a moto sobre o gelo duro em frente à bomba de combustível, que continuava ao relento, sem qualquer cobertura de proteção.
Chegamos com dia claro e temperatura de 6 graus negativos, pouco antes das 18 h.
Abastecemos a moto e a camioneta, e fomos até o restaurante para conseguir dois quartos. São muito caros, à primeira vista, mas, ao refletirmos sobre onde estávamos e toda a logística para manter aquele ponto de apoio funcionando durante todo o ano, chegamos à conclusão de que o valor era justo. Agradecemos ao Supremo Criador e aos proprietários por mantê-los disponíveis.
Acomodamo-nos no hotel em frente, completamente envolvido por neve, onde me desequipei e logo voltamos para comer um lanche e tomar um café.
Antes de nos recolhermos ao hotel, com a moto estacionada em frente ao restaurante, o amigo Sérgio, nosso MacGyver, colocou mais studs no pneu traseiro, pois o desenho do pneu não favorecia uma boa distribuição uniforme. Como esse lote reserva era de um tamanho menor, cravejou por todo o pneu, a fim de melhorar a aderência, tanto no gelo como na neve.
Acordamos por volta das 7 horas naquele 16 de abril, com o Sol querendo surgir naquela imensidão de neve por todo o lado. Fomos tomar café no restaurante e, quando voltamos, o tempo passou a ficar fechado e não tardou para começar a nevar. Acabamos partindo por volta das 10 horas, e logo a temperatura começa a despencar, chegando a 9 graus negativos no termômetro da moto. Realizamos um rápido reconhecimento da estrada.
A estrada continuava com boa camada de neve na saída de Coldfoot, depois, na parte mais plana, a estrada, que tem um bom trecho de asfalto, melhora muito, mas tudo à volta é nevado.
Algumas milhas antes da passagem do Atigun Pass, o tempo fechou rapidamente com uma tempestade de neve e vento forte. Paramos, pois não havia condições de pilotar uma moto sem visibilidade, às escuras. Como o Collin nos emprestou uma rampa, decidimos, de forma unânime, embarcar a moto, pelas condições de insegurança que se mostravam indiscutíveis. Um motorista que estava parado com o caminhão quebrado comentou que, com a camioneta, era possível passar.
Logo que começamos a subir, o vento movimentava a neve, e, poucos quilômetros à frente, foi se formando uma tempestade de neve, cobrindo quase que totalmente a visão da estrada, mas era impossível tentar fazer retorno.
Próximo ao cume da montanha, o Sérgio conduziu a camioneta, guiado pelo Supremo Criador e auxiliado pelos Anjos de Guarda, pois dirigiu, por algum tempo, “às cegas” literalmente. Não se visualizavam os guard rails, e o pavor foi sentido por integrante da expedição! Momentos de extrema tensão e perigo.
Estávamos como se atravessando nuvens densas, sem controle visual ou instrumentos tecnológicos. Tentamos manter a serenidade, auxiliando o Sérgio a dirigir com o nosso pensamento e nossos olhos. Admito que cometi um erro de avaliação para essa travessia, mesmo com a avaliação positiva do motorista do caminhão. A diferença é que eles são peritos da Dalton Hwy. As imagens são assombrantes e atemorizantes!
A descida do outro lado estava com uma visão um pouco melhor, mas a tempestade de neve continuava. Logo avistamos uma fila de caminhões parados. Fomos seguindo, devagar, até que cruzou uma máquina que limpa a neve da pista. Não tardou e o trecho foi liberado, baixamos a moto para estrada, sempre com a habilidade do Sérgio, que tem muita experiência de trilheiro.
Foi um momento tão tenso, a ponto de o Sérgio dizer, se tivesse ideia do que enfrentaríamos, não teria passado. Inclusive utilizou essas mesmas palavras ao relatar a sua esposa, pelo telefone, à noite.
Ao nos afastarmos da montanha, se inicia uma região mais plana, onde a estrada continua se alternando com pedrisco compactado e asfalto. A neve e o gelo na pista, especialmente onde havia asfalto, exigiam muita atenção em razão do gelo que havia por baixo da neve, removida pelas máquinas. Várias máquinas trabalhavam no trecho.
À medida que avançávamos rumo ao Norte, tudo à volta da estrada era coberto de neve até onde nossos olhos conseguiam avistar no horizonte. Indescritível!
Ao me aproximar de Prudhoe Bay, mesmo com o asfalto limpo, em grande parte do trecho, toco o acelerador com cautela, e o pensamento fervilha com imagens, retrospectivas, sensações, emoções à flor da pele, agradecimentos e orações, por estar pilotando, naquele instante, a poucas milhas do destino. Difícil transformar esse momento vivido em palavras definitivas.
Poucos minutos antes das 19 horas, eu estava estacionando a moto em frente à General Store, onde o piso parecia uma pista de hóquei no gelo, mas com ranhuras deixadas pelas máquinas que raspam a neve que se acumula sobre o gelo. À chegada, o êxito do planejamento, a companhia dos amigos Castilho e Sérgio me deixaram mais sereno, talvez anestesiado.
Muitos registros fotográficos, vídeos e partimos para encontrar um hotel. Com a temperatura abaixo de 7 graus e vento moderado, me refugiei na entrada de um alojamento da Cia Brooks Range, ao lado da General Store, onde aguardei o Sérgio e o Castilho.
Depois de quase uma hora na busca de vaga em hotel, conseguiram um “meia boca”. Acomodamo-nos e jantamos, com a boa vontade do cozinheiro, pois já estava tudo fechado. O Sérgio preferiu apenas fazer um pequeno lanche.
Eu tratei de descansar, pois o dia foi intenso e tenso.
O Castilho se preparou para colocar tudo em ordem para iniciar o seu trajeto de retorno a Fairbanks, para fechar o desafio do Grande Cacique Fazedor de Chuva e também fechar o hemisfério norte para o GC Fazedor de Neve.
No dia 17, todos acordamos antes das 6 horas, com dia claro e limpo. O café estava liberado a partir das 5 horas.
Às 8 horas, o Brother Castilho já estava montado na moto para se deslocar até a General Store e registrar sua partida de Prudhoe Bay. Sua condução foi com extremo cuidado, pois estava literalmente ilhado no gelo, piso duro, o que dificulta pilotar a moto, mesmo com studs nos pneus.
Fotos e vídeos e bora para a estrada aproveitar o dia que prometia ser de sol, apesar da temperatura que se mantinha negativa.
Era perceptível o momento inicial de adaptação do Castilho aos pneus com studs, exatamente como eu me comportei na partida de Fairbanks.
A estrada parecia mais limpa, com pouco gelo e neve nesse trecho inicial. Mas, não tardou, chegou o longo trecho com neve e maquinas limpando a pista, mas o Castilho já estava se adaptando bem à moto e conduzia com cautela e prudência, demonstrando segurança e determinação.
Agora eu conseguia apreciar um pouco mais toda aquela exuberância de paisagem, que, por vezes, parecia surreal, coisas da nossa imaginação. O Castilho, por sua vez, creio, aproveitava melhor a pilotagem, pois já conhecia o terreno pelo deslocamento do dia anterior.
A paisagem continuava, a cada milha, com extrema exuberância, sempre acompanhada pela magnífica obra da Trans-Alaska Pipeline.
Mais alguns trechos com neve na estrada em que o Castilho passou com cautela, mas demonstrando segurança, um ou dois escorregões, que controlou com maestria.
Por volta das 13 h 40 min, o Castilho fez nova parada, dessa vez, para reabastecer a moto. Aproveitou para relaxar um pouco enquanto o Sérgio e eu realizávamos o trabalho.
O dia continuou limpo, com Sol tímido, mas presente.
A passagem pelo Atigun Pass foi muito tranquila, com o trecho inicial da subida com pouca neve na pista, não havia vento e pouco tráfego. Agora conseguimos ver a sua imponência e beleza em sua plenitude.
Após a travessia do Atigun Pass, encontramos o mesmo caminhão quebrado, ainda aguardando socorro para o conserto.
Eu, desde a noite anterior, me sentia incomodado, não desapontado, pois tinha consciência de que o clima é bruto no Alaska e pensava na possiblidade de permanecer mais um dia em Coldfoot, para fazer a travessia do Atigun Pass, mas, ao mesmo tempo, eu sabia que mais um pernoite iria onerar muito os amigos.
Algumas milhas depois, por volta das 15 h 15 min, eu pedi para o Sérgio ultrapassar o Castilho e fiz sinal para ele encostar a moto, pois o lugar se mostrava seguro.
Como eu não havia pilotado na travessia do Atigun Pass, no dia anterior, em razão da tempestade de neve e vento, já descrita, solicitei ao Castilho para me ceder a moto, tínhamos tempo para chegar com folga a Coldfoot com a luz do dia, pois eu gostaria de fazer a travessia daquela montanha mágica e coberta de neve.
Ele, prontamente, aquiesceu a minha solicitação, e, em poucos minutos, eu estava com o macacão, capacete e luvas calçadas.
Foi uma sensação incrível subir e descer aquela montanha, e assim acabei tendo a oportunidade de fazer duas vezes a travessia, sempre acompanhado pelos amigos.
Eu precisava fazer esse percurso, não só pelo cumprimento da regra do desafio, que imaginei, pudesse ser considerada, mas pela sensação indescritível, um sentimento inenarrável, que resumiu um desafio grandioso em pouco menos de uma hora de pilotagem. Obrigado, Castilho e Sérgio.
Retornei ao mesmo ponto em que peguei a moto para o Castilho seguir pilotando até Coldfoot.
Ao final, a parada se tornou técnica, pois o Castilho solicitou a aplicação de mais uma camada do Tyre Grip nos pneus, para melhorar a aderência. Também ele já apresentava sinais de cansaço e sofria com o frio na face, visto que precisava deixar uma abertura na viseira que embaçava, porque seu pinlock apresentava problema na vedação.
A estrada continuava melhor, mas se alternava com neve, gelo e um pouco de lama nos trechos de terra.
As paisagens que estavam as minhas costas, no meu deslocamento para Prudhoe Bay, agora eu as contemplava de forma plena. E, a cada curva, se avistavam cenários encantadores e surpreendentes.
Chegamos novamente a Coldfoot, agora com sua entrada completamente livre de neve na pista, dando conta de que dois dias de Sol é suficiente para os resquícios de neve, deixados pelas máquinas, desaparecerem rapidamente.
Entramos no complexo de apoio de Coldfoot e rapidamente abastecemos a moto, a camioneta e o galão que levávamos de reserva.
Depois de nos instalarmos no hotel, voltamos ao restaurante, onde cada um pediu um lanche, o Castilho e o Sérgio também aproveitaram para beber cerveja. Eu continuei apenas com água. Foi um tempo de boas risadas, pois o Sérgio havia tirado onda com o Castilho, quando resolveu o problema do pinlock do capacete com fita isolante e alcatrão. Boas histórias!
Depois foi momento de descansar, pois o dia seguinte seria um pouco mais longo até Fairbanks.
Dia 18 amanheceu com céu limpo, prometendo ser ótimo para pilotar. Depois do café, por volta das 8 h, o Sérgio observou que o pneu traseiro esquerdo da camioneta estava com pressão baixa. Peguei o compressor e tratamos de colocar uma calibragem bem superior, pois não detectamos a eventual perfuração.
Às 8 h 40 min, o Castilho já estava pronto para colocar a moto para rodar e fechar seu percurso. A estrada que há dois dias, estava com neve e gelo se apresentava limpa. Alguns trechos de terra bem compactados que permitiam uma boa tocada.
O cenário, ao longo da Dalton Highwai, continuava estonteante a cada milha que avançávamos. Não raramente, surgia um paredão formado por montanhas completamente nevadas, contrastando com a estrada de terra cercada de pinheiros nativos. Um prêmio para quem gosta e aprecia fotografia.
Passava das 10 horas e chegamos ao Arctic Circle. O Castilho teve muita dificuldade em chegar até a placa para o registro. O processo de degelo era notável, e a neve fofa se misturava ao barro que se formava, dificultando a tração, escorregando a roda traseira, e, por duas vezes, quase foi ao solo com a moto.
Após as fotos, auxilie, segurando a moto na lateral para não escorregar, até próximo ao acesso da estrada.
Mais um trecho de estrada, que agora se alternava com muita poeira e raros trechos com gelo na pista, chegamos ao ponto de apoio às margens do Yukon River. O Castilho também não conseguiu chegar até o estabelecimento com a moto, tendo que deixá-la próximo à estrada.
Aproveitamos a parada para abastecer com a gasolina reserva, pois o acesso à bomba de combustível era praticamente impossível com a moto.
Desse ponto até a o entroncamento com Elliott Highway, a paisagem já se apresentava com pouca neve na crista das montanhas, mas ainda com neve entre os pinheirais e ao longo da estrada. A pista estava seca e bem compactada, com boa parte de asfalto.
Parada na placa da Dalton Highway para o Castilho fazer registro fotográfico. Cabe destacar que o Castilho estava concluindo o desafio Grande Cacique Fazedor de Chuva, pois, sua viagem ao Alaska, em 2018, foi encerrada naquele ponto. Parabéns, meu caro Irmão! Fico feliz pela sua conquista, pois fazer esse desafio, com a garupa e sem parceiros é para poucos.
Seguimos para Fairbanks, agora pelo asfalto, e logo encontramos uma obra de manutenção antes de Fairbanks, com um trecho longo do qual foi retirado completamente o asfalto. Essa parada foi de uns 15 min, e o Castilho, já cansado pelo dia intenso de pilotagem, aproveitou para se esparramar e relaxar na Elliott Highway. Quando a pista foi liberada, um carro da empresa guiou os veículos nessa travessia.
Realizamos mais uma parada técnica, pouco antes da chegada, para necessidades fisiológicas, e colocamos toda a gasolina reserva no tanque da moto, pois era nossa ideia fazer a entrega da moto ao Collin, ainda no final do dia.
Nessa parada, o Sérgio, ao manobrar a camioneta, observou que o vazamento do pneu era exatamente em um dos studs. Ele, com sua habilidade, rapidamente fez o conserto.
O acesso à residência do Collin ainda continuava com neve e gelo, e o Castilho teve trabalho para passar, mesmo com os pneus com os studs.
A moto foi entregue muito suja da lama da Dalton Hwy, com os studs, mas sem um dano ou arranhão. O Collin, que se referiu a nós como crazy, ficou muito feliz e nos cumprimentou pela aventura, que para ele era inédita. Ele mesmo nos disse que nunca havia utilizado pneus com studs, ou mesmo, colocado-os em pneus.
Conversamos um pouco enquanto fazíamos o processo de entrega da moto e o material que nos emprestou e acabamos negociando para deixar os macacões para ele vender ou alugar.
Ao final, ele ajudou a terminar com o Jack Daniels do Castilho, em comemoração ao sucesso da nossa aventura.
Depois de nos instalarmos no hotel base em Fairbanks e com o término do desafio, surgiu a ideia de anteciparmos nosso retorno a Miami, pois a esposa do Sérgio estava chegando do Brasil para comemoração do seu aniversário. Eu e o Castilho entendemos muito justo, pois era o mínimo que poderíamos fazer como um gesto de agradecimento por todo o apoio que nos emprestou.
Acabou que eu e o Castilhos decidimos também antecipar nosso voo de Miami para o Brasil.
Depois de um dia em Fortaleza, com o Brother Castilho e a Nara, acabei desembarcando em Itajaí no dia 25.
Ao encerrar essa jornada desafiadora, por toda a dificuldade imposta pelo clima severo, distância de onde vivemos, logística complicada e custo elevado, cumpre agradecer, especialmente ao Brother Castilho, por acreditar no projeto e colaborar com seus conhecimentos e experiências para o nosso planejamento exitoso.
Agradecer ao amigo Sérgio, pelo seu espírito solidário, proativo, sincero, humorístico, emprestando seu vasto conhecimento, habilidades e tempo, para que nossa viagem tenha sido bem mais suave. Quem sabe, em breve, Ushuaia nos espera!
Agradecer a minha esposa e meu filho, que sempre estão comigo quando comunico dessas ideias de aventuras, mesmo não aprovando...
Ao Supremo Criador, que me permitiu e nos guiou, com sua luz de infinita bondade nessa aventura.
Os registros de mídias não foram suficientes, muito em razão da tensão de pilotar em um território hostil e foco total na segurança, com o objetivo de chegar a Deadhorse. Foi o possível.
Em breve, disponibilizarei no site: renatolopesmotoviagem.com e no Instagram: @renatolopesmotoviagem.
A história completa estará em um capítulo do próximo livro...
Antes que alguém pergunte, não falo nem sob tortura, quanto foi o custo dessa aventura, pois tenho sério receio de ser interditado pela Wilma, ou pelo Number One.
Fraterno motoabraço.
Até lá, até lá, até lá.
Mensagem do nosso moderador e amigo Gilmar Dessaune, por ocasião da homologação do desafio.
" Boa tarde, agora, Grande Cacique Fazedor de Neve Renato Lopes,
Prezadas Senhoras e Senhores, estamos diante de um fato mundialmente histórico no motociclismo: o primeiro louco, doido de pedra, doido varrido, maluco (beleza), amalucado, desajuizado, delirante, desvairado, insensato, lunático, tresloucado e Adorável Insano Renato Lopes concluiu o desafio mais radical do Território Fazedores de Chuva!!!! Exponencial!!!!
Ir ao Ushuaia (no extremo Sul das Américas) e a Prudhoe Bay (no extremo Norte das Américas) de moto NO INVERNO era algo simplesmente utópico. Um sonho delirante que por mais de uma década ninguém ousou tentar, menos ainda REALIZAR, mas está feito. Espetacularmente PARABÉNS!!!!
Não haverão adjetivos capazes de bem qualificar o feito, então vamos tomar emprestado outras aventuras ímpares ao longo da jornada humana no planeta Terra:
- em 1909 Robert Edwin Peary foi o primeiro homem a chegar no Polo Norte;
- em 1911 Roald Amundsen foi o primeiro homem a chegar no Polo Sul;
- em 1922, cinco Citroën Autochenille type P17 se tornaram os primeiros carros a cruzar o deserto do Saara (ressalte-se que ele foram preparados para a jornada com instalação de esteiras do tipo que usam os tanques de guerra);
- em 1927 Charles Lindbergh foi o primeiro a cruzar o oceano Atlântico de avião sem escalas;
- em 1953 Edmund Hillary e seu guia nepalês Tenzing Norgay foram os primeiros a chegar ao cume do Everest;
- em 1969 Neil Armstrong foi o primeiro homem a pisar na Lua;
- em 2024 Renato Lopes foi o primeiro homem a ter ido ao Ushuaia e ao Alaska de moto no inverno.
Pode parecer exagero, mas não é pois todos os demais citados acima fizeram parte de mega projetos com apoios e recursos diversos enquanto o Renato Lopes o fez com recursos próprios materiais próprios e com seus recursos psicossomáticos únicos de um ser diferenciado e iluminado, em todos os sentidos. Fantástico!!!!
Todo o tempo de planejamento e posterior execução da jornada que se deu em duas etapas (não tem como ser feita de uma vez porque tem que ser no INVERNO sendo que por estarem em hemisférios diferentes, não há como fazer de uma só tocada devido à alternância das estações do ano em nosso planeta).
Isso torna tudo ainda difícil pois o momento de cada partida é crucial para o sucesso da hiper aventura.
Mas, agora, isso virou história pois está feito.
O modelo está pronto, testado e aprovado.
O sucesso está garantido.
O reconhecimento ao mérito é nossa obrigação!!!
Ao mesmo tempo, podemos nos deliciar, curtir, assustar com as imagens e riquíssimos relatos. Obras de arte complementares ao magnânimo feito.
Se, até então, já nos causava espanto vermos suas aventuras sucessivas e magníficas, agora podemos dizer que atingiu um apogeu que raramente será alcançado, enfatizando ainda mais o mote: "qualquer um pode fazer, porém, poucos o fazem...".
Quando todos pensavam que seria impossível, ele foi lá e fez: Maktub!!!
Certamente todas as situações e emoções vividas poderão e deverão ser contadas, mas para sentir, só repetindo a incrível jornada sobre duas rodas com motor.
O ineditismo será recompensado, afinal seu Certificado terá o número 1 e isso não terá dinheiro que pague, a satisfação pessoal será inenarrável ao recebê-lo e, desde já, antecipo: pode chorar!!!
Imaginamos que a cada noite, ao deitar, imagens e mais imagens ficarão bailando em sua mente até o sono chegar e sua vida nunca mais será a mesma, pois certamente já é muito melhor.
Devemos destacar e agradecer a todo apoio e suporte que teve para realizar o feito. Os amigos que seguiram contigo. A família a dar o respaldo sem o qual não teria se lançado nessa aventura.
Respeitamos e admiramos TODOS os desafios, pois somente quem os faz é capaz de saber o quanto custou (em sentido amplo) para fazer e esse desafio foi giga ousado.
Assim, só nos resta colocar a foto que eternizará esse momento da homologação:
(foto está na capa de entrada no Menu Notícias)
E sob o seu nome, pela primeira vez, o selo alusivo à sua conquista!!!
Pode comemorar, essa vitória é sua e jamais lhe será tirada.
Que continuem a vir muitas outras, afinal temos convicção que isso não para por aqui.
Muito obrigado pelo respeito às regras, pelos textos maravilhosos, pelas imagens arrebatadoras e por estar nos brindando com sua presença entre nós!!!
Namastê!!!!
Mais uma vez PA-RA-BÉNS!!!
Abração e bon voyage!!!!
Controle: Homologação nº 047/2024 "
Olá caros amigos leitores,
Bem, chegou o momento de “bater o martelo” para a realização de um novo desafio dos Fazedores de Chuva. E dessa vez foi o Nascente FC, que percorre os 70 municípios banhados pelo Rio Tietê, o rio que corta de oeste para o leste o Estado de São Paulo, e vai desaguar no Rio Paraná.
E tudo começou quando eu estive em Atibaia, SP, para o evento anual do Grupo V Strom, que ficou “batizado” de AtibaiaStrom, nos dias 3 e 4 de setembro de 2022.
Cabe registrar que havia dois anos que o evento não se realizava em razão da “fraudemia”, e todos estavam muito ansiosos para voltar a se abraçar, trocar informações e contar histórias. Eu igualmente estava com saudade de rever essa família que teve início no ano de 2004, por iniciativa do nosso querido amigo e grande motociclista, Marcelo Resende, de Belo Horizonte, MG.
O reencontro foi fantástico, muitos abraços, beijos e conversa da boa, entre amigos e irmãos.
Iniciando o meu retorno para casa, acabei pernoitando em Itú, na casa do Brother James e Adriana, onde passamos um domingo muito especial, e acabou suprindo a suas ausências no AtibaiaStrom.
No dia 05, ao deixar o condomínio para pegar a estrada, cruzei por uma ponte sobre o Rio Tietê. Imediatamente lembrei do Nascente FC e parei com a moto sobre a ponte. Registrei algumas fotos para eventual decisão futura, de realizar o desafio. Em outra viagem, quando fui a Brasília, já havia fotografado a Prefeitura de Itú, com vistas ao Lendário FC – 1ª Conta.
Nessa rápida parada sobre a ponte, pesquisei no Google Maps qual outra cidade seria a mais próxima, onde o Rio Tietê cortava ou tocava o munícipio. Observei que era Salto e não hesitei em apontar o azimute para Salto. Assim, acabei registrando duas prefeituras de cidades e as margens do rio.
Esses registros fotográficos ficaram no arquivo, e serviram para dar o start no desafio do Nascente FC, que não tinha data para conclusão, mas tardaria, pois já iniciara em meus pensamentos o exercício de verificar uma agenda, para conhecer as belezas do Rio Tietê e suas cidades ao longo do seu curso.
Muito provável, praticamente certo que o Brother e FC Rui Dipp, de Soledade, RS, irá me fazer companhia nesse desafio. Agora é contagem regressiva.
E de fato não tardou para a retomada definitiva em completar o registro das demais cidades banhadas pelo majestoso Rio Tietê. Sim, majestoso, como veremos a seguir.
Ainda no final do ano de 2022, quando eu planificava o roteiro do desafio, comentei com o Brother Rui Dipp, de Soledade, RS, sobre minha intenção de em breve realizar o desafio. Ele de pronto se interessou, e combinamos de partir para o Estado de São Paulo dia 17 de fevereiro de 2023.
E assim, após um rápido café da manhã em nosso apartamento em Itajaí, SC, pegamos a estrada com destino a Peruíbe, onde já havíamos feito a reserva no Praia Hotel Xapuri, pois era período de carnaval.
Já conhecíamos a cidade, que possuí boa infraestrutura, e foi possível descansar depois dos 540 km rodados com nossas motos XRE 300.
No dia seguinte, 18 de fevereiro nosso destino para pernoite foi Mogi das Cruzes, onde já havíamos realizado reserva no Hotel Binder Quality Inn, pela mesma razão, o carnaval.
Logo que partimos do hotel, a chuva começou de mansinho e foi necessário um pit stop para colocar as roupas de chuva. O tráfego na BR 101 estava razoável até chegarmos na região de Cubatão, onde simplesmente o tráfego estava parado, face o grande deslocamento dos paulistanos para o litoral.
Passamos por Bertioga por volta das 10h30min, e subimos a Serra pela SP 098, que estava com um fluxo de tráfego no sentido contrário, impressionante. Contava com duas pistas para descida, toda demarcada por cones de sinalização, contra uma pista para subir. Em razão dessa medida a subida foi demorada, pois os caminhões e ônibus, muito lentos, também faziam formar longos trechos com veículos “virando a roda”. Essa estrada da Serra entre Bertioga e Mogi das Cruzes é muito bonita, mas ficamos impossibilitado de conhecer melhor, pois não havia condições de parada, face o volume de tráfego.
Chegamos no topo da Serra em Mogi das Cruzes e paramos em um restaurante especializado em pamonha. Aí não teve jeito, tive de pedir uma.
Por volta das 11h50min estávamos fazendo o primeiro registro do Rio Tietê no Município de Mogi das Cruzes, depois seguindo para a Prefeitura. Como planejado, seguimos para Salesópolis para iniciar a fotografar o desafio do Nascente FC a partir do nascedouro do Rio Tietê, mas na passada por Biritiba Mirim, aproveitamos para fazer os devidos registros.
Na entrada da cidade de Salesópolis, já iniciamos os registros e seguimos para a Prefeitura. Realizamos um rápido tour pela cidade e abastecemos as motos antes de seguir para o Parque Nascente do Rio Tietê. Ficamos com uma ótima impressão da cidade, apesar da curta estadia.
Chegando no parque às 14h10min, os guardas se preparavam para fechar em razão do tempo que se armava para chuva, com muitas trovoadas e indicação de queda de raios. Segundo eles, o parque é uma região que o fenômeno de quedas de raios tem uma incidência muito grande, por isso essa precaução com a segurança.
Foi necessária muita argumentação para descermos rapidamente até a fonte e fazer os registros, acompanhado pelo guarda, que sim, foi muito gentil e atencioso, mas nos foi permitido apenas descer até a nascente. O local é bem bacana, conta com um acervo de fotos e registros históricos, mas passamos rapidamente para fotografar, pois não foi possível ver detalhadamente.
Nos equipamos rapidamente e seguimos para retornar, pois a estrada de acesso ao parque, depois que sai da SP 088, estava bem deteriorada e com chuva por certo dificultaria ainda mais nosso deslocamento.
Aproveitamos ainda, e fomos fazer os registros nos Municípios de Suzano, Poá e Itaquaquecetuba, antes de retornarmos a Mogi das Cruzes para o pernoite, onde chegamos na boca da noite. Nesse meio de tarde para o final, a chuva já se manifestava sem agressividade, mas o que nos trouxe algum embaraço, foi a parada para a foto na ponte sobre o rio em Itaquaquecetuba, face ao intenso tráfego de veículos.
Logo que nos acomodamos no hotel a chuva começa a ficar mais intensa, e assim continuou por toda a noite, até a manhã de domingo. Inclusive nos fez retardarmos a saída pela manhã, que só ocorreu às 9h, após a chuva diminuir um pouco a intensidade.
No café da manhã, tomamos conhecimento pelo noticiário da tragédia no litoral paulista, região por onde havíamos passado no dia anterior com chuva mansa. Obviamente que ficamos consternados e sem saber o que iriamos enfrentar pela frente, pois as notícias eram de mais chuvas para o Estado de SP, mas decidimos continuar no desafio.
Seguimos para Guarulhos onde chegamos, sempre com chuva de baixa intensidade, por volta das 9h50min. Depois foi a vez de entrarmos no centro de São Paulo, para que o Dipp fizesse o devido registro na prefeitura, pois eu já havia feito essa foto quando realizei o desafio Bandeirante FC.
Como era domingo, e com a chuva, o trânsito estava bem tranquilo, e por certo os riscos com a segurança estavam diminuídos. Tanto Guarulhos como São Paulo, e demais cidades da região metropolitana, é relativamente rápido para a foto na margem do rio, que via de regra é feita nas pontes ou abaixo delas, quando se tem acesso facilitado.
Depois foi a vez de Osasco e Barueri, onde abastecemos e fizemos um pequeno lanche na loja de conveniência do posto de serviço. As notícias seguiam dando conta que o número de mortos e desaparecidos aumentavam por conta das intensas chuvas no litoral.
A cidade de Barueri nos agradou muito e nos pareceu bem evoluída, organizada e de ótima infraestrutura, apesar dos seus mais de 250 mil habitantes.
Naquela tarde tivemos tempo de registrar as cidades de Carapicuíba, Santana de Parnaíba, Pirapora do Bom Jesus, Araçariguama, Itu, Cabreúva e Salto. A chuva diminuiu a tarde, permanecendo apenas uma garoa fraca, e o único embaraço daquele domingo chuvoso e triste, especialmente para os paulistanos, foi não conseguirmos chegar em frente à Prefeitura de Pirapora do Bom Jesus, pois tinham levantado uma grande estrutura coberta, com arquibancadas e palco em função do carnaval da cidade.
Todo o entorno da prefeitura estava bloqueado para o trânsito, e o acesso só era permitido a pé. Após conversarmos com os seguranças, solicitando para entrarmos e fazer uma rápida foto na prefeitura, nos foi negado. Pedi para falar com o coordenador do evento e logo aparece uma outra pessoa, onde detalhei o motivo da nossa solicitação, ele entendeu e foi consultar um Sargento da PM que coordenava uma grande equipe de policiais. Quando retornou, nos deu a boa notícia, poderíamos adentrar até antes da estrutura coberta, onde havia muitos blocos e bandas, mas que teríamos que adentrar um a um, e empurrando a moto com motor desligado.
E assim conseguimos chegar perto do prédio da prefeitura e fazer o registro um pouco de longe, mas possível de identificar. A cidade nos pareceu bem típica do interior paulista, mas muito aconchegante, já com o Rio Tietê ostentando um grande volume de água cruzando a cidade, que encanta e seduz os visitantes.
Em Salto, onde chegamos já no início da noite, após o registro na prefeitura, fomos nos hospedar no Alji Hotel, localizado em uma rua paralela a rodovia SP 079.
Em razão das fortes chuvas que caiu no Estado de SP, decidimos alterar um pouco o roteiro inicial, deslocando Elias Fausto para o final do dia, na esperança que parando a chuva, o solo poderia estar mais seco.
Na manhã do dia 20 partimos logo após as 7h, para realizarmos o registro da margem do rio do Município de Salto, na Rodovia do Açúcar, SP 075, que havíamos deixado de fazer no dia anterior, pois chegamos a noite na cidade. Com a alteração do roteiro, seguimos para o registro de Porto Feliz, Tietê e Jumirim. Neste último, estávamos com uma certa dificuldade para encontrar a entrada da fazenda, que normalmente viabiliza o acesso de motociclistas para foto mais próximo ao rio.
Depois de fazer o registro na prefeitura, bem perto, havia uma loja de material de construção, NR, e entrei para tentar comprar um colete de sinalização. Por coincidência, o proprietário me informa que acabara de vender os últimos três para uma empresa de telefonia, que estava fazendo um serviço na cidade.
Após aquelas perguntas e curiosidades de costume das pessoas que nos encontram na estrada, perguntei a ele onde poderíamos fazer uma boa foto a margem do Rio Tietê no município. Foram chegando alguns clientes amigos dele, nos apresentou e o papo se alongou, com várias dicas e possibilidades de fazendas com bom acesso.
Mas sempre um lembrava que a porteira poderia estar com cadeado e não ter ninguém por lá, além do estado das estradas (trilhas) no interior das fazendas. Um funcionário lembrou de uma fazenda bem perto, uns 3 km da cidade e o proprietário da loja NR escalou esse funcionário para nos levar até a entrada da fazenda, com a camioneta de entrega da empresa.
Todos foram muito solícitos e atenciosos, e além de demonstrarem interesse em nosso desafio, ficaram embevecidos com o projeto e de onde éramos, em razão da distância.
E assim chegamos a uma fazenda, que tem o acesso à Rua Célio Roberto Faulim, bem em frente a Industria Cerâmica Faulim, do outro lado da pista da SP 300. Segue-se até o final e como a porteira estava aberta e ninguém apareceu, mesmo com muitos cachorros na volta das casas, fomos adentrando e seguindo uma pequena estradinha, que logo se tornou em um caminho de fazenda. Conseguimos chegar até a cerca que dá acesso a outra propriedade, mas com boa visão do Rio Tietê.
Não perdemos tempo em fazer o registro e no retorno, até usei a câmara GoPro para registrar o tipo de caminho. Foi a primeira experiência mais trabalhosa para se chegar a margem do rio. Saímos sem ninguém nos importunar, e bem que passamos muito próximo das casas.
A chegada a Laranjal Paulista foi rápida e em menos de 30min já estávamos fazendo o registo na prefeitura. Seguimos pela SP 113, uma estrada vicinal em direção a localidade de Miguel Jorge, passando pelo Rio Tietê, na divisa com o Município de Tietê, seguindo para Saltinho. Feito o registro da margem na ponte, verificamos que havia uma estrada de terra pelo lado Norte do rio, até o Distrito de Laras. Seguimos esse caminho de 14 km aproximadamente, e chegamos novamente as margens do Rio Tietê em Laras, onde novamente fotografamos o rio.
Seguimos para Piracicaba, mas ao chegarmos no entroncamento com uma via vicinal que liga Conchas a Piracicaba, localidade de Jiboia, resolvemos seguir a esquerda em direção a Conchas e fazer o registro do rio sobre a ponte na divisa dos dois municípios. O último trecho entre a localidade de Anhumas até a ponte da divisa, é de terra, com aproximadamente 8 km, com alguns trechos arenoso, mas que se passa bem. No dia estava bem úmido devido as chuvas e facilitou nossa tocada.
Aproveitamos e registramos as margens do rio para os municípios de Conchas e Piracicaba. Retornamos pela mesma via até Piracicaba onde efetuamos o registro da prefeitura, quando o tempo já se mostrava fechado, com ventos fortes. Rapidamente conseguimos chegar até um posto para abastecer, hidratar e comer um pequeno lanche.
Começou um chuvisco fraco, colocamos as roupas de chuva e rumamos para tentar fazer o registro de Elias Fausto, onde chegamos na prefeitura às 16h18min. O tempo continuou carregado com nuvens que indicavam chuva, e decidimos não perder muito tempo para voltar a estrada.
Voltamos para a SP 308, Rodovia do Açúcar até a entrada para a Empresa Circuito Panamericano da Pirelli, onde chegamos e tentamos com os vigias, o acesso para chegar até o rio. Não nos permitiram em razão das ordens existentes da empresa, e das câmaras de controle.
Paramos dois motoristas com veículos que trafegavam em sentindo contrário para solicitar informações. Nos passaram que teríamos que seguir uns 25 km adiante para chegar até uma ponte sobre o rio. Conferimos no mapa e entendemos que chegaríamos na divisa com o Município de Feliz com Itu.
Voltamos a questionar os vigias da empresa, quando um deles lembrou que voltando uns poucos km, era possível avistar o rio por uma estradinha que dá acesso a vários ranchos na beira do rio.
Seguimos a dica, retornamos e entramos em uma estradinha no meio do canavial, chegando até essa região dos ranchos e sítios. Não conseguimos acessar nenhum, todos com cadeados por fora, indicando que não havia ninguém, mas da estrada foi possível se avistar o rio bem perto, onde faz uma curva acentuada. A estrada tem um trecho que estava bem ruim em razão das chuvas.
Como já era final de tarde para seguir até o Município de Conchas, decidimos pernoitar no mesmo hotel da noite anterior, em Salto, que ficava apenas a 24 km de distância.
O dia não foi tão proveitoso com relação ao número de cidades, mesmo não tendo chovido, mas a distância e o círculo que realizamos foi longo, 334 km para registrar 6 municípios, contra 11 do dia anterior, e com chuva. Mas ficamos satisfeito com o progresso, visto que no domingo percorremos a região metropolitana.
Era quase 8h quando partimos no dia 21 para o Município de Conchas, a fim de registrar a prefeitura, onde chegamos às 9h30min.
Depois seguimos para fotografar a Prefeitura de Anhembi, primeiro no prédio antigo e depois no atual que fica no centro da cidade, e a margem do rio a partir da ponte, bem próxima a cidade, na estrada SP 147.
Retornamos pela SP 147 até a SP 300, rodovia Mal Rondon, para chegar a Prefeitura de Botucatu. Cidade de porte médio da região, com cerca de 150 mil habitantes, tendo grande influência na região como polo educacional universitário, prestação de serviços na área de saúde avançada, com uma economia forte e um comércio regional importante e crescente. Uma bela cidade.
Na saída da cidade paramos para abastecer as motos e fazer um lanche, quando se aproximou um motociclista para conversar. Aproveitamos para buscar informações sobre o melhor ponto para fotografar a margem do rio no Município de São Manuel, nosso próximo destino. Ele não conhecia bem, mas chamou o cunhado que estava no carro com ele, que comprava areia do Porto de Areia Santa Izabel. Nos passou as dicas de como chegar, partindo da primeira rotatória ao chegar em Igaraçu do Tietê, pela SP 251. Ofertei um adesivo a ele, e logo o motociclista veio solicitar um, pois tinha uma GS 1200 e estava planejando partir para a Argentina no final do ano, com amigos.
Fomos até a margem do rio do Município de Botucatu, a partir da ponte sobre o Rio Tietê na SP 191. Retornamos novamente até a SP 300, registramos a Prefeitura de São Manuel, e logo tomamos a direção da SP 251.
Com a boa indicação chegamos com facilidade até o portão da areeira, nos deparamos com o portão fechado a cadeado. Era possível ver o rio, mas com as construções e maquinários a frente e reflexo do Sol, as fotos não ficaram satisfatórias. Registramos mesmo assim, inclusive do cadeado. Buzinamos e apareceu um vigia, que nos informou da impossibilidade de nos franquear o acesso, até porque eram ordens e havia câmeras.
Quando retornávamos, observei que havia uma outra estrada que seguia para um canavial a esquerda. Decidi seguir a estradinha de terra arenosa, e logo do alto, se pode avistar o Rio Tietê de forma privilegiada. Repetimos as fotos.
Seguimos para fotografar a Prefeitura de Igaraçu do Tietê, e na sequencia fomos até o município de Macatuba. Antes de chegar na cidade, entramos para direita após uns 16 km, seguindo em direção ao Rio Tietê por mais uns 15 km, até uma região de ranchos a beira do rio. Havia um local que parecia ter sido construído um parque público, ou não, com construções abandonadas. Como o portão estava aberto e havia pessoas pescando no local, fomos adentrando pelo trilho de alguns carros, pela grama amassada, e chegamos próximo a margem do rio, onde realizamos o registro.
Logo seguimos a até a cidade onde finalizamos com a fotografia de prefeitura.
Retornamos a Igaraçu do Tietê para fazer a travessia para Barra Bonita, onde registramos as margens das duas cidades a partir da ponte. Mas antes disso, como a estrada ao chegar na cidade margeia o rio, entramos uns 30 m e chegamos à beira do rio, onde coloquei, literalmente, o pé no rio e efetuamos alguns cliques.
A ponte é de uma via só, com semáforo, e conta com pista para pedestre e ciclistas. O rio nessa região é largo e forte, onde propicia a navegação de barcos de turismo de médio porte, a qual é destaque para movimentar a economia da região. Finalizamos o dia registrando a Prefeitura de Barra Bonita, e fomos buscar um hotel para o pernoite, pois o final da tarde chegou por volta das 18h10min.
À noite, como era carnaval, a cidade estava muito movimentada por todo o centro e orla do rio, com vários quiosques de lanches e bebidas. Após um bom banho fomos até a orla e encontramos a melhor Loja de Conveniência de um posto Petrobras que conheci. Mais parecia um ótimo restaurante, que apenas uma Conveniência. E o atendimento excepcional, com uma variedade de cardápio, com cortes de carnes premium. Bom demais.
Antes de caminharmos um pouco na orla, aproveitamos para projetar o dia seguinte, pois tinha no roteiro trechos com estrada de terra, e o acesso ao rio seria por condomínios e ranchos.
Na manhã do dia 22, como minha corrente estava folgada demais, resolvi passar em uma oficina perto do hotel para ajustar. Estava fechada, e só abriria à tarde. Busquei pelo Google outra oficina, mas só encontrei aberta uma para camionetas. Liguei e o proprietário me disse que não faria o serviço, mas emprestaria as chaves e tal. Ficava 3 quarteirões de onde estávamos, e rapidamente chegamos ao local. Foram muito atenciosos, nos ofereceram as chaves, papelão para proteger a roupa no piso engraxado, panos de limpeza e sabão para remover graxa. Eu mesmo ajustei a corrente, com o auxílio do Brother Dipp.
Aproveitamos para buscar mais informações sobre a estrada para o condomínio Vale Verde, em Mineiros do Tietê e o Rancho do Marcilio, em Dois Córregos. As informações foram ricas em detalhes e precisão.
Rumamos para pegar a Estrada Vicinal do Baixão da Serra, que liga Barra Bonita até Santa Maria da Serra, estrada na quase totalidade cascalhada, larga e muito bem conservada. Apesar das intensas chuvas que haviam caído nos últimos dias, estava em ótimo estado e foi possível rodar com facilidade e segurança. Logo que passamos por uma placa indicativa de Mineiros do Tietê, Dois Córregos e Santa Maria da Serra, entramos à direita, já em território de Mineiros do Tietê, de terra natural e algum trecho de areia, que cortava grandes plantações de cana, por aproximadamente 4 km até a entrada do Condomínio.
Na portaria fomos identificados, anotado as placas das motos e nos foi permitido adentrar, após informarmos do nosso propósito.
Chegamos até a margem do rio, observamos muitas pessoas residentes no condomínio, caminhando na rua naquela manhã de quarta-feira de cinzas.
Após os registros, retornamos até a estrada vicinal e seguimos até nova entrada à direita, dessa vez em território de Dois Córregos. A estrada de leito natural, quase toda arenosa, com alguns trechos ruins, de mais ou menos uns 10 km. Ao chegarmos no local encontramos somente uns 3 condomínios próximos a margem do rio e muitos ranchos. Tentamos acesso a dois condomínios e não nos foi permitido entrar em razão das regras de segurança. Quando retornávamos para tentar algum rancho, observei um grande condomínio em construção, com a porteira aberta, com apenas um pedreiro trabalhando, no que parecia ser a futura portaria. Ele estava envolvido com o trabalho e eu fui adentrando nas ruas ainda de terra e com pouquíssimas casas concluídas e ocupadas, a maioria em construção.
Segui por uma rua em direção ao rio e após um trecho de declive acentuado, bem castigado pelas chuvas, com muitas valas, chegamos a margem do rio para efetuarmos o registro fotográfico.
Novamente voltamos a estrada vicinal e retornamos em direção à Barra Bonita, para entrarmos em uma estrada municipal em direção a Mineiros do Tietê. Estrada em bom estado, terra vermelha, com alguns pontos de barro, mas sem susto para as XRE. Possui um trecho com um tipo de saibro, bem compactado e estreita, que percorre uma Serrinha em meio a mata, muito bonita e agradável para pilotar.
Chegamos na cidade por volta do meio-dia, e depois dos registros da prefeitura fomos abastecer as motos e fazer um lanche em uma padaria, distante uns 40 metros.
Quando o relógio marcava 12h54min, já estávamos em frente à Prefeitura de Dois Córregos fazendo as fotos para o desafio.
Depois foi a vez de irmos até a Prefeitura do Município de Jaú e Itapuí. Na sequência registramos a margem do rio para os Municípios de Jaú e Pederneiras sobre a ponte que divide os municípios na SP 225. A seguir registramos a Prefeitura de Pederneiras, Boracéia, Bariri e Itaju, onde fizemos a travessia do Rio Tietê através da balsa para o Município de Arealva.
Como o final de tarde já se apresentava, seguimos para Iacanga, onde após o registro na prefeitura, decidimos buscar um hotel para pernoitarmos na cidade. A cidade não dispõe de boas opções, apenas o Hotel Jaraguá Iacanga, mas não havia mais disponibilidade, e acabamos encontrando um, “meia boca” em todos os sentidos, espaço, banho, cama e café da manhã. Mas era o que tinha... E quase zero opções para jantar, apenas lanches. Aí não tivemos opção, pedimos para preparar um hambúrguer especial, eu pedi com a minha receita. E ficou muito bom.
Depois de um “cômico” café da manhã, mas é o Brother Dipp que sabe dos detalhes. Seguimos para Ibitinga, e na passagem da travessia sobre a ponte do Rio Tietê na SP 321, fizemos o registro das duas margens do rio.
Por volta das 10h25min estávamos fotografando a Prefeitura de Borborema, e só depois fomos até a Prainha do Juquetá, distante uns 9 km de estrada pavimentada.
Seguimos para Novo Horizonte onde registramos a prefeitura e voltamos pela SP 304 até o entroncamento com a SP 333, e já fotografamos as duas margens do rio para Novo Horizonte e Pongai. Depois do registro na Prefeitura de Pongai fomos fazer a foto da margem do rio para Uru, percorrendo uns 17 km em uma estrada basicamente de leito natural e alguns trechos arenosa, mas sem qualquer dificuldade.
Rodando por meio das fazendas e canaviais na região, é possível testemunhar a prosperidade e a beleza que o Rio Tietê empresta aos municípios que ele toca. Belíssimas paisagens.
Retornamos pela mesma estrada e chegamos na Prefeitura de Uru por volta das 15h. De Uru partimos em direção a Pradínia, uma localidade já em território de Pirajuí, e depois seguimos por estradas entre fazendas, bem ruins, face as chuvas que caíram na região, até chegarmos na Fazenda Santa Laura.
O Capataz e outros três funcionários tentavam colocar alguns aninais no caminhão boiadeiro, os quais estavam dando um trabalho “danado”. Praticamente tiveram de arrastar com corda de laço alguns animais.
Aguardamos alguns minutos, até que pudesse nos dar atenção, e logo que informamos o motivo da nossa visita, de pronto nos foi permitido adentrar até o fundo da fazenda para chegar junto a cerca perto do rio. A cerca é necessária em razão do rebanho de bovinos e ovinos, que é considerável por toda a fazenda.
A estradinha virou uma trilha sobre a grama até chegarmos a última porteira, onde se avistava o Rio Tietê bem próximo, e que nesse ponto tem uma largura de mais de 3 km, em razão do reflexo causado pela barragem de Promissão, alguns km rio abaixo. Espetacular o visual!
Além de fazer a fotografia da margem do rio para Pirajuí, nos foi possível fazer o registro da margem do rio para Reginópolis.
Cabe destacar a sempre gentil atenção do amigo FC Gilmar Dessaune, que nos passou detalhes para os registros de Pirajuí, Reginópolis e Guaiçara, facilitando nossas incursões nessa região que nos era desconhecida, com estradinhas locais, no meio das fazendas ou grandes plantações de cana.
Aquele dia, 23/02, tentamos de todas formas “driblar” a chuva que rondava pela volta onde nos deslocávamos, e já no final da tarde, por volta das 16h30min, quando retornávamos da Fazenda Santa Laura, fomos forçados a fazer um “pit stop” no único “bolicho” que havia na esquina da estradinha com o asfalto. Caiu uma pancada forte de chuva por uns 15min e logo parou. Aproveitamos para nos hidratar e logo seguimos para Reginópolis, onde após a fotografia na prefeitura, abastecemos e rumamos para Pirajuí por volta das 17h15min. Ainda deu tempo de agendar a revisão dos 18 mil km da minha moto, na concessionária Honda da cidade de Pirajuí, onde pretendíamos pernoitar.
Nos hospedamos no Pirajuí Palace Hotel, próximo ao centro e da concessionária Honda. A chuva não deu trégua desde o início da noite, e precisamos buscar um transporte do aplicativo Uber para retornar ao hotel após o jantar.
Antes das 8h eu já estava em frente a concessionária para fazer a revisão na moto, visto que o agendamento não era com horário marcado, mas por ordem de chegada. O Dipp ficou no hotel aguardando algumas roupas que havia deixado na lavanderia do hotel.
Enquanto esperava abrir, parou um motociclista com uma NC 750 toda equipada, perguntando se eu precisava de algum apoio. Conversamos um pouco e logo abriu a oficina. A revisão não passou de duas horas, e além dos itens básicos da revisão, foi trocada as pastilhas de freio dianteira.
O relógio não atingira a marca das 11h, e já estávamos registrando a Prefeitura de Cafelândia. Quando nos preparávamos para dar partida até o Distrito de Bacuriti, ainda deu tempo de assistirmos um acidente de trânsito no entroncamento ao lado da prefeitura.
A localidade de Bacuriti é bem próxima a margem do Rio Tietê, distante aproximadamente 37 km, com asfalto relativamente novo. Da sede do distrito percorremos pouco mais de 3 km em uma estradinha péssima, que dava acesso a pequenos ranchos a margem do rio, e em razão da chuva da noite anterior, estava bem barrenta, mas com cuidado chegamos sem sustos. Feito o registro, voltamos a Cafelândia para pegarmos a SP 300 e chegar a Prefeitura de Guaiçara.
Me chamou a atenção que o Município de Cafelândia está produzindo pouco café e muita cana-de-açúcar. Seguramente decorrente do declínio o preço do café e do surgimento do programa brasileiro Proálcool, em meados dos anos 70.
Passava das 14h quando chegamos a Prefeitura de Sabino, uma cidade que nos pareceu muito simpática, talvez por ser pequena, limpa e com a arquitetura preservada.
Rumamos para a balsa para fazer a travessia do rio, para Sales. Chegamos no terminal da balsa quase às 14h30min, quando a balsa já se movimentava na margem oposta para chegar em Sabino. Descansamos um pouquino, pois os mosquitos detectaram sangue novo na área e começaram as picadas.
As 15h já estávamos navegando em direção a Sales, e em pouco mais de 30min já fazíamos o registro na margem do rio em território de Sales. Mais 15min e foi a vez de fotografar a prefeitura. Seguimos para o Município de Adolfo, onde registramos a prefeitura e a margem do rio, para então pegar novamente a SP 304 e depois a BR 153 para fotografar a Prefeitura de José Bonifácio, e posteriormente fomos pernoitar no Premier Garden Hotel.
A cidade que tem aproximadamente 40 mil habitantes, com uma boa infraestrutura para receber turistas, nos pareceu bem desenvolvida no setor terciário, e evidentemente forte no agronegócio, sendo um grande produtor da orizicultura. Por indicação da recepcionista do hotel, fomos jantar na Churrascaria do Gaúcho, no centro da cidade. Creio que foi a churrascaria com valor mais barato que para um bom rodízio, que já paguei.
Na manhã do dia 25, antes das 8h já havíamos fotografado a Prefeitura de Ubarana, e logo a seguir registramos as margens do rio para Ubarana e Promissão, sobre a ponte na BR 153.
Logo que passamos a ponte, a poucos mais de 14 km, entramos à esquerda, onde tem um abrigo para usuários de ônibus e tal, e seguimos em direção a estrada da Prainha por mais 9 km, de terra natural e trechos com areia. Ao chegarmos na Agrovila Birigui, viramos à direita e fomos até o final, distante uns 3 km, onde fizemos o registro da margem do rio para Guaiçara.
De retorno a BR 153, fomos fazer a foto na Prefeitura de Promissão, onde chegamos antes das 11h. Depois fomos para a cidade de Penápolis, mas na passada por Avanhandava não pude deixar de registrar a prefeitura. Vai saber se vamos em direção a “Segunda Conta”...
Voltamos para a rodovia SP 300 e fomos registrar a Prefeitura de Glicério. Retornamos pela mesma rodovia até o entroncamento com a SP 425 para Barbosa, onde após a foto na prefeitura, registramos as margens do rio para os Municípios de Barbosa e José Bonifácio, sobre a ponte do Rio Tietê.
Passava das 16h quando chegamos em frente à Prefeitura de Zacarias, e de lá rumamos para as coordenadas que havíamos anotado de uma fazenda que dava acesso ao rio. Chegando no local a porteira estava com cadeado e nas duas casas próximas só apareceram crianças e cachorros. Se avistava o rio um pouco de longe, para meu gosto, mesmo assim realizamos os registros no local, inclusive da porteira com cadeado.
Mas quando nós estávamos deslocando para esse local, passamos pela sede de uma fazenda, onde observei um corredor entre a sede que tinha gado no pasto e um canavial do outro lado. Falei para o Dipp que tentaria chegar mais perto do rio por aquele acesso, que não havia porteira. E assim segui minha intuição, passando pela propriedade com dois carros na frente da casa e algumas pessoas, mas não parei. Quando entrei no corredor, todo o gado que estava próximo a cerca tentou “apostar” corrida com a moto, mas logo desistiram.
Assim chegamos na beira do Rio Tietê em Zacarias, por um corredor de pouco mais de 1 km. Cabe destacar que quase a totalidade do percurso da cidade até o local, com aproximadamente 12 km, é de asfalto. Só quando chega perto das propriedades, a margem do rio, que passa a ser terra batida.
Voltamos a Zacarias e seguimos para Buritama, onde chegamos às 17h40min em frente à prefeitura, que estava em obras de reforma geral. Realizamos os registros mesmo assim no local e fomos na sede provisória da prefeitura, que está temporariamente abrigada no Centro Cultural, no centro da cidade, onde também deixamos nossa passagem registrada.
Era final de tarde, mas resolvemos passar a ponte para Brejo Alegre, onde fizemos os registros sobre a ponte sobre o Rio Tietê, na SP 461, para ambos os municípios, e fomos até a prefeitura que fica bem no início da avenida de acesso à cidade, para as fotografias de lei.
Como eu tinha anotado as coordenadas para fotografar a margem do rio para Glicério, partindo de Brejo Alegre, e apontava uma pequena distância de 4 km, falei ao Dipp que poderíamos fazer antes do escurecer. Seguimos por uma boa estrada de terra, mas à medida que nos deslocávamos, percebi observando o GPS, que a direção não estava correta.
O mesmo entendimento também teve o Dipp, que navegava com o telefone celular pelo Google. Depois de quase 5 km paramos e resolvemos retornar para tentar um hotel em Brejo Alegre. Até fomos conferir um, bastante precário, o que nos fez retornar a Buritama para pernoitar, e ficamos no Gabirá Hotel.
Depois de sair para uma boa caminhada e jantarmos uma pizza, retornamos para o hotel. Eu fiquei até quase meia-noite projetando o roteiro para dia seguinte, pois tínhamos algumas margens do rio com estradinhas e caminhos de terra para acessar as fazendas. Utilizando as ferramentas do Google Maps e o GPS, conseguimos estabelecer alguns parâmetros para chegar aos pontos a margem do rio.
Na manhã, após o café, seguimos para nova travessia da ponte para Brejo Alegre, mas decidimos inicialmente fazer a margem do rio para Birigui. Para isso seguimos até a localidade de Duas Barras, onde não existe nada, só fazendas, mas tem um acesso à direita, por estrada de terra natural, que estava bem ruim, mais em razão das chuvas. Essa estrada tem algumas bifurcações, mas o GPS e o Google Maps nos indicavam a direção que queríamos, ou seja, chegar a Fazenda Santa Maria.
Na chegada, a estrada virava um caminho e com barro. Avistamos uma casa e um galpão com maquinários, e como a porteira estava aberta, fomos adentrando, até que os cachorros ficaram alertas e apareceu duas senhoras. Damos conta dos motivos da nossa visita e uma delas muito gentil, chamou o filho, que também é funcionário da fazenda. Essa senhora sugeriu que ele nos levasse até a sede da fazenda, onde se tem uma vista privilegiada do Rio Tietê.
O rapaz muito solícito, de nome Fábio, foi até o galpão e com alguma dificuldade fez funcionar uma moto KTM, do patrão, e nos conduziu pelo caminho até a casa sede. O casal de proprietário da fazenda estava em viagem, visitando as duas filhas. Comentou que tem uma moto e gosta muito, mas ainda não consegue viajar. Ofereci um adesivo pessoal, e ele pediu outro para o patrão, que também curte as motos.
Registramos o momento com várias fotografias e vídeos, pois realmente a vista para o rio desde a casa sede, é espetacular.
Retornamos até Brejo Alegre e seguimos para registrar a margem do rio em Glicério, dessa vez com as coordenadas corretas, tanto no GPS como no telefone do Dipp. Chegamos com facilidade ao Distrito de Juritis por estrada pavimentada, e depois seguimos por mais 4 km de terra, com o último trecho pelos corredores das plantações de cana-de-açúcar, um verdadeiro labirinto.
Esse ponto é público, razão pela qual se chega com facilidade. Quando realizavamos os registros na margem do rio, uma viatura da Polícia Militar chegou no local, onde havia algumas pessoas e uns 4 veículos estacionados no local. Desse ponto também é um dos lugares mais pertos da margem do rio para Penápolis, e realizamos o registro.
Seguimos para registrar as Prefeituras de Birigui, Araçatuba e Santo Antônio do Aracanguá, e ao cruzarmos a ponte sobre o rio na SP 463, fotografamos as margens do rio para os dois últimos municípios.
Pouco antes das 15h fotografamos a Prefeitura de Sud Mennucci e logo a seguir a margem do rio. Às 15h50min passamos pela cidade de Pereira Barreto para registrar a prefeitura, seguindo então pela SP 262 até Andradina, com “pit stop” para fotografar a margem do rio sobre a ponte, para Pereira Barreto. Cabe referir, que nesse ponto as duas margens pertencem ao mesmo município de Pereira Barreto.
Após o registro da Prefeitura de Andradina, por volta das 17h, buscamos nos aplicativos o Oeste Plaza Hotel, ao lado do Shopping, localizado em uma das saídas da cidade.
Na manhã do dia 27/02, tínhamos a pretensão de concluir o Desafio Nascente FC, e por volta das 8h já estávamos registrando a margem do rio para Andradina e também para Ilha Solteira, sobre a ponte da SP 563 que passa sobre o Rio Tietê. Cabe ressaltar que o rio divide os Municípios de Andradina e Pereira Barreto nesse ponto, mas muito próximo da divisa com Ilha Solteira, em torno de 400 m, possuindo apenas uma faixa de aproximadamente 3 km de margem com o Rio Tietê.
Após os registros sobre a ponte, rodamos uns 4 km e entramos na segunda pequena rotatória, à esquerda que nos conduziu para uma estrada vicinal pavimentada, em direção a localidade de Entre Rios, já no Município de Itapura.
Minha ideia era tentar encontrar um ponto que permitisse acesso à margem do rio por terra, para Ilha solteira. Como a faixa territorial na margem do rio como referi, é de apenas uns 3 km, e da margem do rio até essa estrada vicinal também é de aproximadamente uns 3 km, formando quase um quadrado, em torno de 900 hectare. Isso muito provável, seja de um dono só, pois encontrei nesse trecho da estrada apenas uma entrada para uma fazenda, que estava com cadeado na porteira.
Logo após, mais uns 3 km, tem outra entrada para uma plantação de cana. Era um corredor de terra natural com misto de areia. Entrei para ver onde me levaria, enquanto o Dipp permaneceu na estrada pavimentada. Rodei pouco mais de 2 km e o corredor pendeu para a direita. Parei e com o telefone celular consegui marcar o ponto e constatar que eu já estava em território do Município de Itapura. Aí foi retornar e seguir para Ilha Solteira via SP 595.
Confesso que cheguei a cidade sem muita expectativa, imaginando ser mais uma pequena cidade do interior. Logo que entramos na cidade já percebi que eu estava enganado, pois ela se mostrava muito organizada, dinâmica, com ótimas avenidas, comércio pujante e prestação de serviços forte, limpa, com trânsito e sinalização posta de forma ordenada, enfim, uma bela cidade.
Fui até uma farmácia para comprar um medicamento, entrei sem retirar o capacete, e logo um senhor me atendeu. Passamos a conversar, ele também motociclista, acabou indo ver nossas motos na rua, quando comentou que estava vindo para SC, para conhecer a região da Serra, Urubici, Serra do Rio do Rastro e Corvo Branco. Na verdade, a cidade me conquistou pelo conjunto.
Realizamos a fotografia da prefeitura e retornamos pela mesma rodovia SP 595 até o acesso a Itapura, onde chegamos antes das 11h para fazer o devido registro. Passados 15min já estávamos sobre a ponte do Rio Tietê na SP 595, divisa entre os Municípios de Itapura e Castilho. Feito as fotografias correspondentes as margens para cada cidade, seguimos para concluir o desafio em frente à Prefeitura de Castilho. Ou poderia dizer, era fotografar a prefeitura e correr para o abraço. Hehehe
Nesse deslocamento para a última foto, muitos pensamentos vêm e vão em nossa mente na solidão do capacete. Momentos passados, presentes e imaginação do futuro, turbinam nosso pensar, por certo, pela euforia e excitação de um final feliz que se avizinha, mas também pela descarga de adrenalina que acelera nosso ritmo cardíaco.
É uma etapa de certo modo perigosa para a pilotagem, e sabemos que não nos é permitido perder o foco, mas sim, é excessivamente importante manter nosso “radar” com todos os sentidos em alerta nessas situações. Eu, particularmente, tenho o hábito de elevar meu pensamento ao Altíssimo para agradecer esses momentos de felicidade, que tanto nos faz bem à alma e ao corpo físico.
O Paço Municipal como é chamado, fica de fronte a praça principal da cidade, ao lado da Igreja Matriz da Paróquia São José, onde só tem acesso pedestre. Quando chegamos no local, havia uma viatura da PM com dois policiais, nos dirigimos a eles solicitando para adentrar na praça com as motos para fotografar a prefeitura, e de pronto nos autorizou. Isso quando o relógio marcava 11h50min. Aí foi só alegria!
Posicionamos as motos bem em frente à prefeitura e não nos apressamos para fazer vários registros, inclusive da Igreja e de vários pontos interessantes da praça. Foi um momento de congratulações entre nós, pois além do êxito da missão que assumimos de realizar esse desafio, tudo, em todos os momentos, transcorreu em perfeita harmonia, como uma grande sinfonia que não escorrega ou atropelas as notas. A tolerância de forma voluntaria e natural foi exercitada na medida da régua de 24 polegadas, a cada dia, dia após dia de convivência, com o equilíbrio do verdadeiro iniciado, escolhido e acolhido como Brother.
Chegado o momento do retorno para casa, após um lanche e hidratação, pegamos a ótima rodovia SP 300 até o entroncamento com a BR 153, quando seguimos por essa, para chegar na boca da noite na cidade de Ourinhos, onde após abastecermos as valentes motocas, fomos nos hospedar no Hotel Íbis. O Brother Dipp, só para não perder o costume, antes mesmo de efetuar o check-in, já lavou o peritônio com uma cerveja das verdinhas. Isso tudo enquanto eu estacionava a minha moto. Imaginem o desespero da Brother...
A noite jantamos no hotel e foi o momento de relaxar e, relembrar as boas e inesquecíveis passagens da viagem, desde o princípio até o final. E foram tantas...
Cortar o Estado de SP de Leste a Oeste, seguindo e perseguindo as margens do Rio Tietê foi fantástico e nos permitiu conhecer um pouco, especialmente, das entranhas do interior do estado, seus hábitos, costumes, as diferenças entre microrregiões, a diversidade de riquezas, as pessoas com a simplicidade, humildade, generosidade, amabilidade e competência, que se mostravam a cada momento de contato.
Uma experiência enriquecedora que, por certo, tornará nossos passos mais firmes e vigorosos nessa caminhada. Recebemos como um presente por acreditarmos em nossos sonhos.
No dia seguinte, 28/02, ainda rodamos juntos até o entroncamento da BR 373 com BR 376, pouco antes de Ponta Grossa, onde definitivamente nos despedimos dessa trip. Eu segui para Itajaí via Curitiba, e o Dipp para Soledade, via BR 153.
Agradeço a todos que, de alguma forma, nos emprestaram alguma informação útil para que pudéssemos montar nas motos, dar a partida, e percorrer as rutas que nos levou, da nascente a foz, do digno e majestoso Rio Tietê.
Foi um desafio intrigante pelo seu ineditismo, e isso é tudo que uma alma inquieta precisa para estar nas rutas sobre duas rodas.
Agradeço fraternalmente ao estimado e querido Brother Rui Dipp, pela companhia e parceria.
Bora para as rutas FC!!! "qualquer um pode fazer, porém, poucos o fazem..."
A todos um até breve, até breve...
Por Renato Lopes.
Obs. “Foram rodados 6.340 km, em 17 dias, 70 cidades e 70 margens do rio”.
Mensagem do nosso moderador e amigo Gilmar Dessaune, por ocasião da homologação do desafio.
“Bom dia, agora, Nascente Fazedor de Chuva Renato Lopes e Rui Dipp.
Este momento certamente sempre me faz viajar no tempo e reviver todas as emoções de há quase 10 anos atrás. Uma dádiva.
Como sempre, um desafio postado com todo cuidado, carinho, dedicação e competência que já são marcas registradas de suas aventuras sobre duas rodas com motor, agora devidamente acompanhado do amigo Rui Dipp. Parabéns!!!
Postagens claras e ricas nos fazem "sentir" cada momento e poder projetar as emoções vividas a cada clique. Espetacular!!!
Não bastasse a insanidade de fazer o desafio, ainda carregou mais um para as estradas compartilhando esses momentos ímpares de um desafio sem igual e puderam desfrutar de todos os momentos dessa incrível jornada.
Destaque especial que realizaram o desafio no estado de São Paulo mesmo um morando em Santa Catarina e o outro no Rio Grande do Sul, um algo a mais de charme e determinação de ambos para encarar a dura jornada.
O Nascente FC é um dos desafios com um dos maiores índices de desistência, isso faz prova do quão difícil é realizar o que "qualquer um pode fazer, porém, poucos o fazem...".
Agora conhecem toda a vida deste rio único e exuberante, apesar do fator "humano" que teima em maltratá-lo.
O Renato dá um polimento todo especial em seu nome e o Rui Dipp insere de forma definitiva o seu nome na Elite do Motociclismo Mundial, esse grupo de Adoráveis Insanos que viajam mundo afora em busca de aventuras sobre duas rodas com motor enfrentando todas as condições e situações possíveis.
Reforçam sua competência, dedicação, resiliência, ousadia, foco, determinação, altruísmo, cumplicidade e uma dose imensa de insanidade que certamente flui pelos seus poros contagiando a quem se aproximar.
Mais uma magnífica jornada concluída com sucesso em dupla e isso só nos dá felicidade e a possiblidade de admirar seus feitos.
Assim, só nos resta colocar as fotos que eternizarão esse momento da homologação e a escolhidas mostra duas fontes de luz e energia: o Sol e Você, Renato e uma imensidão de água com Você Rui.
E sob o nome do Renato mais um selo alusivo à nova conquista e sob o nome do Rui o primeiro selo alusivo à sua conquista.
Podem comemorar, essa vitória é vocês e jamais lhes será tirada.
Muito obrigado por compartilharem conosco suas aventuras.
Que venham muitas outras, pois tem tudo para seguir realizando grandes feitos.
Mais uma vez PA-RA-BÉNS!!!!
Abração e bon voyage!!!
Controle: Homologação nº 039/2023”
Olá caros leitores,
Bem, embora com um pouco de atraso, é chegada a hora de publicar esse desafio dos Fazedores de Chuva.
Já estou ficando preocupado, a cada saída parece que fica mais distante o final... Desta vez, quando eu me aproximava para concluir o Rodoviário FC - BR 101, no dia 04/11/2021, no solitário percurso entre Capivari do Sul e São José do Norte, trecho da rodovia que um dia, há pouco mais de uma década, foi conhecida como estrada do inferno.
A título de curiosidade, essa denominação diabólica, pavorosa, era em razão dos usuários da rodovia terem que enfrentar pista predominantemente de areia fofa e de muitos buracos ou crateras.
E foi neste cenário e com estas lembranças que em meus pensamentos vão surgindo as ideias, que chegam sem cerimônia e vão tomando conta do cérebro.
Lembrei-me então, que já havia realizado foto na Ponta do Seixas, no extremo leste do Brasil, o Espírito, em João Pessoa, quando realizei uma viagem para o Nordeste no ano de 2012. Nessa viagem, fui acompanhado por amigos dos Gaudérios do Asfalto, de Santa Maria, RS.
Recentemente fui a João Pessoa para fazer o registro do Bandeirante FC, mas não cheguei a ir até a Ponta do Seixas, para novas fotos.
Com estes pensamentos e lembranças foi que decidi, depois de concluir o desafio Rodoviário FC BR 101 em São José do Norte, que seguiria até o Chuí para registrar o ponto cardeal Sul do Brasil, o Pai. Por certo que também já havia estado muitas vezes por lá, mas sem o registro específico constante das regras dos Fazedores de Chuva.
Depois de atravessar Ferry de São José do Norte para Rio Grande, pernoitei na cidade para no dia seguinte, sexta-feira, atravessar a Reserva do Taim e chegar na Prefeitura do Chuí, onde fiz o registro fotográfico. Ainda tive tempo de fazer o registro da ponte sobre o Arroio do Chuí, do Farol da Barra do Chuí e do Obelisco, este na avenida que divide os dois países.
Agora é planejar a incursão para o extremo oeste e norte, e se assim me permitir o Supremo Criador, deixar minhas pegadas por lá. Assim deixei registrado naquela oportunidade, no site dos Fazedores de Chuva.
Conforme minha agenda de “motocadas” foi sendo executada, os desafios pendentes vão caminhando para seu final.
Assim, dia 27/05/22 parti por voltas das 14 h, para registrar mais 4 capitais e chegar até o Munícipio de Mâncio Lima, no Acre, passando pelo MS, MT e RO.
Aproveitei para fazer o registro nas Prefeituras dos Municípios localizados ao longo do caminho. E não foram poucos... mais de 70 municípios.
Após passar para registrar Campo Grande, Cuiabá e Porto Velho, adentrei no Estado do Acre, pela segunda vez, pois já havia realizado esse roteiro em 2012 para conhecer a Rodovia do Pacífico, e chegar mais uma vez ao Peru.
Já em Porto Velho, irmãos motociclistas me alertavam do péssimo estado da BR 364, com trechos extremamente perigosos para um acidente, ou sérios danos nas rodas da moto, o que poderia interromper o cumprimento do desafio.
Na minha chegada a Rio Branco, fui convidado a participar de uma confraternização com um magnífico Fogo de Chão, onde encontrei vários irmãos motociclistas que me passaram idênticas preocupações, inclusive com informações detalhadas, pois alguns haviam retornado de Cruzeiro do Sul, tinha apenas dois dias.
Desde Porto Velho já vinha analisando bem a situação e pensando na segurança, e na necessidade que retornar rodando os 5 mil km para voltar para casa, decidi buscar uma moto menor e mais ágil para “driblar” a buraqueira anunciada.
De pronto um irmão motociclista de Rio Branco me cedeu uma Teneré 250, ano 2016, já com seus 104.503 km, mas em ótimo estado, mediante uma indenização para custeio de manutenção. Agraço de coração a disposição do Irmão Denis Freitas, que não mediu esforços para me auxiliar, inclusive com informações valiosas da região.
Seguramente se tivesse enfrentado aquela estrada com uma moto pesada, teria danificado as rodas e interrompido a trip, ou não teria conseguido chegar no mesmo dia a Mâncio Lima. Realmente a estrada se tornou muito perigosa, especialmente para moto, pois mesmo que tenha certa facilidade para “driblar” os buracos, as rodas são mais frágeis e sempre é bom lembrar que não se tem estepe.
Ao longo do dia 05/06/22, rodando entre Rio Branco e Mâncio Lima, presenciei uma camionete Amarok e mais uns 5 caros pequenos e médios encostado à beira da estrada, que não possui acostamento, com no mínimo dois pneus no chão e rodas amassadas.
Por volta das 17 h e 15 min eu estava atravessando a balsa em direção a Rodrigues Alves, chegando a Prefeitura de Mâncio Lima às 18 h e 05 min, onde efetuei vários registros e fui fazer um lanche no Posto de Serviço em frente, agradecendo ao Altíssimo por ter atingido mais um objetivo sem nenhum incidente.
No Posto conheci um garotinho muito simpático, Pedro Lucas, que se aproximou para falar sobre a moto e a viagem. Acabei experimentando um quibe de arroz, na companhia do menino. Trata-se de um prato típico da região, crocante e muito gostoso.
Após abastecer a moto, passei a colher algumas informações sobre a possibilidade de fazer o passeio até a Serra do Divisor, navegando pelo Rio Moa. Infelizmente eu precisaria ficar mais uns 4 dias, como eu já havia utilizados todos os 5 dias reservas do meu planejamento, não tinha possibilidade de estender minha permanência na região por esse tempo. Mas nada de frustração, pois sempre agradeço que fique algo para trás, que não foi possível naquele momento, pois é uma oportunidade que se abre para retornar e explorar melhor a região, que no caso, é um manancial de beleza.
Já era noite escura quando decidi seguir para pernoitar em Cruzeiro do Sul, em um hotel que foi indicado pelo Brother Jacob, de Porto Velho. Hotel Swamy, muito bom e com ótima localização no centro da cidade, o que me permitiu conhecer um pouco da cultura da região, visitando a Feira de Artesanato e os muitos quiosques com um variado cardápio.
O retorno a Rio Branco foi mais tranquilo, mas como resolvi passar em todos os Municípios ao longo da BR 364, para fazer os registros fotográfico em frente as prefeituras, acabei encontrando a noite na ruta, aproximadamente 30 km antes do Município de Bujari. Bem, aí foi complicado, pois a estrada também estava muito ruim nesse trecho até Rio Branco, e pensando em não correr o risco de danificar a moto do Irmão Denis, tratei de seguir na “cola” de um carro que tinha ótima iluminação e fazia o percurso com muito cuidado, sempre naquele zig-zag para não cair na buraqueira.
E foi assim que cheguei, por volta das 20 h e 10 min em Rio Branco. Depois de devolver a guerreira Teneré 250 ao Denis, parti para o hotel para descansar por um dia, na bela capital do Acre, e organizar o retorno para casa, Itajaí, SC.
Agora é preparar para chegar até o Filho, em Uiramutã, RR, pois o Santo já cheguei. A “coceira” já começou, e precisa ser tratada... com mais rutas.
No dia 04/08/22 cheguei a Manaus para pegar a moto XRE 300, que havia locado com o Tagino Adventure, de Porto Velho.
Combinei com o Tagino de pegar a moto na sexta-feira, pois queria deixar pronta para seguir a Boa Vista no sábado nas primeiras horas da manhã, pois as informações era que a estrada entre Presidente Figueiredo e o trecho da Reserva Indígena Wimiri Atroari, cerca de 235 km ao todo, estava muito ruim.
Era sete horas da manhã de sábado e eu já estava saindo da cidade pela BR 174, pilotando com cautela, pois os pneus off road colocados na moto, dificultava pilotar no asfalto, especialmente nas mudanças de direção, curvas e ultrapassagens.
Realmente depois de Presidente Figueiredo a BR 174 estava perigosa, por conta de muitos buracos e algumas crateras, não permitindo uma pilotagem tranquila e segura. Se o piloto ou motorista se empolgar, poderá ter sua viagem interrompida, como assisti vários carros com rodas amassadas na beira da estrada.
A parte da reserva do Estado do Amazonas é mais a deteriorada, tem trechos que não tem mais estrada, é pedra e buracos, e com chuva deve virar lama. Já após a divisa de Estado, no trecho Roraima, a estrada melhorou um pouco, embora tivesse alguns buracos, apresentava vestígios de que estavam trabalhando na recuperação.
Essa passagem pela Reserva Indígena Waimiri Atroari só é permitida entre 6 h e 18 h, para entrar, quem já está dentro da reserva consegue sair sem problema, mas não é recomendado, especialmente para quem viaja solo, pois poderá pegar a noite na ruta.
Como eu rodei com cautela em razão dos pneus, planejei dormir em Rorainópolis. Fiquei em Hotel Amazon Palace, na BR 174, na entrada da cidade.
Dia seguinte, domingo segui para Boa Vista, mas também como no dia anterior, fiz alguns registros de Prefeituras pelo caminho. Chegando em Boa Vista, fui fazer o registro do Palácio do Governo e também da Prefeitura, antes de me acomodar no hotel.
E foi assim que após concluir o Bandeirante FC e a Comenda Cavaleiro Hugues de Payens, chegou o momento de dar partida para o último extremo dos pontos cardeais, o Filho, em Uiramutã.
Como havia feito contato com o amigo Cezar Riva, também FC, nos encontramos no hotel e fomos jantar para colocar a conversa em dia, a qual estava bem atrasada, pois havíamos nos encontrado em Ushuaia em 2014. Esse sabe muito da região e é uma referência para se colher informações precisas sobre Roraima. Um amigo que está sempre disponível para orientar os motociclistas que desejam rodar pela região.
Como eu estava acompanhando o clima na região, não chovia tinha dois dias e não havia previsão de chuvas para segunda-feira, decidi seguir para Uiramutã para fechar o Cardeal, sem esperar a chegada do Brother Valdinei, também FC, que estava em viagem para Porto Velho.
Saí por volta das 7 h de Boa Vista, com a estrada em bom estado até o entroncamento com de acesso a Uiramutã. Parei no restaurante logo na entrada à esquerda, que também vende combustível, segundo me informaram. Não tinha gasolina, mas informaram que do outro lado da via, bem no entroncamento era possível encontrar.
Desloque até pequena casa indicada, e me deparei com três indígenas deitados em redes, completamente embriagados, com inúmeras garrafas plásticas de cachaça pelo chão, e um deles tentava balbuciar alguma coisa, que eu não entendia.
Mas eu tinha combustível para chegar até a comunidade de Placas, que segundo informações também vendem combustível. Como eu queria entrar no trecho de terra com combustível para chegar até Uiramutã, abordei um senhor que passava pelo local e perguntei se ele poderia intermediar a compra. Ele entrou na casa, mas disse que todos estavam bêbados.
Insisti para que entrasse na casa para pegar uns quatro litros de gasolina, ele um pouco reticente de início, me atendeu, trouxe até uma mangueira, a qual não foi necessária. Abasteci a moto, ele não sabia o valor, mas ao final me cobrou dez reais o litro. Eu paguei, agradeci e retomei a estrada rapidamente.
Os 25 primeiros km da estrada, bem compactada com um tipo de piçarras, estava ótimo, praticamente sem buracos. Mas logo que se atravessa a ponte de concreto do Rio Surumu, e se chega a comunidade de mesmo nome, a estrada começa a ficar muito ruim, com infinitos buracos, alguns pequenos atoleiros, muitas pontes de madeira e buracos traiçoeiros nas cabeiras das pontes. Diminui a velocidade, pois desviava de um, dois buracos e caia em outro, raramente consegui colocar a terceira marcha na moto neste trecho.
Até a comunidade Placas a estrada não mudou muito, uma região de planície, conhecida como lavrados, similar a savanas da Venezuela.
Em Placas tem um entroncamento que virei à esquerda para seguir a Uiramutã. Seguindo em frente pela mesma estrada, se chega ao Município de Normandia. Tem muitos relatos de motociclistas que não observam as placas indicativas no local e vão parar em Normandia. Tem que se estar atento nesse local.
Logo que se entra à esquerda, a estrada ruim dá uma trégua de uns 6 km, com estrada de piçarras bem compactada. Depois a estrada volta a ficar ruim, mas se tem a companhia do Rio Contigo por longo trecho, correndo ao lado esquerdo da estrada, enquanto muitas coisas vão se passando na cabeça do piloto que se defende dos buracos, com o foco de não cometer erros para chegar ao objetivo, Uiramutã. O rio acaba sendo uma fonte de inspiração e guia seguro.
Praticamente toda a região faz parte da maior Reserva Indígena do país, a Raposa Serra do Sol, até o limite com Uiramutã, onde existem mais de 70 aldeias com várias etnias.
Uns 40 km antes de Uiramutã inicia o trecho de Serra, onde a estrada se transforma em valas profundas e pedras soltas enormes, que em razão das chuvas de inverno vai deteriorando a precária estrada. Imagino que no início do verão em setembro, é o período que iniciam o trabalho de recuperação e nivelamento da estrada.
Esse trecho foi bem tenso e cansativo, apesar de eu estar com uma moto leve e com pneus adequados ao terreno, pois o “velhinho” que praticamente só tem um joelho, não consegue mais pilotar em pé, como recomenda esse trecho. Acabei escorregando uma vez, mas acelerei rapidamente e sai da confusão sem comprar terreno, até porque não me passariam escritura por ser terras indígenas demarcadas...
Cheguei em Uiramutã cansado, após quase cinco horas, desde a saída da BR 174, mas sem incidente para percorrer os aproximadamente 140 km. Assim eu completaria o Cardeal FC, fechando o ponto Norte, o Filho. Mais uma etapa vencida!
Fui direto para a Prefeitura Municipal fazer o registro, para depois me instalar na Pousada Uiramutã, do Sr. Santilio. Só mais tarde fui fazer um lanche.
Enquanto eu fazia um lanche em uma padaria bem próximo a pousada, chegou um jovem rapaz indígena, acompanhado da esposa e um bebê. Entrou para comprar pães. Fiquei curioso, pois o bebê era muito pequeno e perguntei quantos meses tinha. Ele me respondeu que tinha 2 meses. Observei que ele chegara tranquilo, e ao descer da moto no colo da mãe, começou a chorar e só parou quando a mãe montou na moto novamente. Aí levantei e perguntei se poderia fazer uma foto do bebê, e eles prontamente me autorizaram e até sorriram para a foto.
Todo meu cansaço foi esquecido por alguns momentos, pois testemunhei um bebê de 2 apenas dois meses motocando em Uiramutã. Isso para um motoviajero é um momento inesquecível.
A noite o Sr. Santilio fez um churrasco para a família e acabou me convidando. Foram horas de conversas e aprendizado da região, pois ele reside há mais de 25 anos em Uiramutã.
Na terça-feira acabei saindo da pousada quase 9 h para meu retorno. Sempre quando se passa a conhecer uma estrada, tudo fica mais tranquilo e até menos cansativo.
A surpresa foi por conta de dois episódios que não era previsto, pois não havia qualquer comentário em Boa Vista ou mesmo Uiramutã, de possível barreira ou bloqueio da estrada na Reserva Raposa Serra do Sol.
A descida da Serra foi relativamente tranquila e os pneus off road fizeram a diferença. Ao me aproximar da Aldeia Tabatinga, observei uma grande quantidade de indígenas reunidos, com faixa de protesto sobre o marco temporal das terras indígenas, cones, índios vestindo camisetas pretas e muita movimentação. Em frente a reserva continua o micro-ônibus escolar que fora incendiado em novembro de 2021, por ocasião de outro protesto, onde inclusive teve confronto com a Polícia Federal, apoiada pela Polícia Militar para desobstrução da rodovia.
Não tinha bloqueio da rodovia e passei pela aldeia rapidamente, só parando um pouco adiante para fazer umas fotos rapidamente, pois o Santilio Júnior, filho do Sr. Santilio havia me orientado a não fazer fotos dos índios, pois além de não gostarem, podem querer confusão. Fiz as fotos sem desligar a moto e não fui importunado.
O retorno parecia tranquilo, eu só me preocupava em driblar a buracaria e manter a atenção na estrada, mirando o asfalto da BR 174. Quando me aproximei da Aldeia São Matheus, percebi vários cones na estrada, formando um funil e vários índios, em torno de uns 10 na beira da estrada. Um deles, na sombra de uma pequena árvore, portava um arco e várias flechas na mão. Todos vestindo camisetas pretas, alguns de bonés.
No interior da aldeia muitos índios reunidos, parecia em assembleia. Eu diminuí a velocidade, e como não fizeram qualquer sinal para que parasse, segui a marcha, olhei pelo retrovisor e não observei qualquer reação diferente, segui em frente agradecendo por não ter sido abordado. Como os índios estavam na estrada achei prudente não parar para fazer fotos no local.
Quando parei no restaurante do entroncamento a BR 174 novamente, haviam várias pessoas almoçando e me associei a elas. Nas conversas, me disseram que quando fazem protestos, não deixam subir para Uiramutã pessoas que não são moradores da região.
De retorno a Boa Vista, fiz contato com o Brother Valdinei, marcando para jantarmos juntos.
Ele passou no hotel com esposa Débora, e me levaram para jantar um prato típico da região muito saboroso. Uma caldeirada de dourado, temperado com jambu.
Após o jantar me levaram para fazer um mini tour pela cidade e algumas fotos, antes de me deixarem novamente no hotel. Uma noite muito agradável com esse casal muito amável.
Depois foi retornar a Manaus e voltar para casa com as missões cumpridas com êxito total.
Foi sem dúvida o desafio Cardeal FC foi marcante e enriquecedor, e nos permitiu ver e sentir a realidade desse país continente que é o Brasil, com suas belezas exuberantes e suas tristes mazelas.
Até uma próxima jornada, até lá, até lá...
Mensagem do nosso moderador e amigo Gilmar Dessaune, por ocasião da homologação do desafio.
“ Bom dia, agora, Cardeal Fazedor de Chuva Renato Lopes,
Uma verdadeira aula de como fazer um desafio com somente 4 fotos obrigatórias ficar rico de imagens e narrativas. Excelente!!!!
Não tem como não se emocionar com as histórias vividas, narradas e registradas de forma tão natural quanto todo o ambiente onde foi rodado esse filme de aventura.
Chegar aos 4 extremos de um país continental não é tarefa fácil, menos ainda quando temos os "temperos" de Mâncio Lima e Uiramutã no roteiro que dão ares de odisseia à conquista.
Porém, por outro lado, o torna infinitamente mais rico tanto como pessoa quanto como motociclista, pois vivenciou situações diversas e desafiadoras o colocando em um patamar muito mais elevado que antes de iniciar a jornada. Parabéns!!!!
Sem dúvida nenhuma mais um FC a integrar o rol dos UNSTOPPABLES.
Fatos marcantes os registros com as crianças, uma mostra clara da sua sensibilidade e humanidade ao se harmonizar e empatizar com essas situações do cotidiano por onde passou, salve o quibe de arroz.
E salve o bb estradeiro, quem sabe um futuro FC.
Também temos que destacar as amizades feitas e fortalecidas ao longo da viagem, tornando tudo ainda mais prazeroso com as interações e momentos únicos desfrutados com os amigos FC´s por onde andou.
Sobre duas rodas com motor pode realizar o que "qualquer um pode fazer, porém, poucos o fazem...".
Mais uma conquista de peso que dá um polimento todo especial em seu nome na Elite do Motociclismo Mundial. Fenomenal!!!
Que as pessoas tenham o interesse e disposição de ver e ler todo esse desafio, certamente terão um ganho substancial de conhecimento. Um exemplo e inspiração para todos nós.
Desta forma, só nos resta colocar a foto que você escolheu para eternizar esse momento da homologação.
E sob o seu nome mais um selo alusivo à nova conquista.
Pode comemorar, essa vitória é toda sua e jamais lhe será tirada!!!!
Muito obrigado por compartilhar tão detalhadamente conosco suas aventuras.
Muito mais há por vir, já estamos esperando com ansiedade.
Mais uma vez PA-RA-BÉNS!!!!
Abração e bon voyage!!!!
Controle: Homologação nº 072/2022 “
Saudações caros amigos leitores!
Essa “brincadeira”, que de brincadeira nada tem, parece que me tomou de jeito. No rápido relato do Rodoviário Fazedor de Chuva BR 101, me reportei que meus pensamentos seguiam na direção de outros desafios.
E foi assim, por essas rutas que meu pensamento se manifestava naquele momento.
“ Seguindo em frente, logo se chega a Capivari do Sul, um pequeno munícipio do RS muito bem organizado na sua parte urbana. Como de regra a velocidade urbana é muito baixa, avistei um lindo prédio as margens da rodovia BR 101, na entrada da cidade, e parei para conferir, quando um garoto indo de bicicleta para a escola, para e pergunta sobre a moto e tal... Nesse momento, olhando para prédio, lá estava um letreiro destacado, indicando Prefeitura Municipal.
Após me despedir do garoto, aproveito para me hidratar, e surge nos meus pensamentos a ideia de expandir os desafios, quem sabe dar partida no Valente RS ou mesmo o Lendário 1ª Conta. Assim, às 12 h e 46 min, resolvi fazer a foto em frente à Prefeitura de Capivari do Sul, RS, e liberei meu pensamento para ver onde me levaria. E foi até a próxima cidade. ”
De modo que naquele dia, 04/11/2021, eu estava dando início ao Valente FC – RS, aproveitando as cidades que iria visitar pelo caminho ainda a percorrer, até retornar para casa daquela viagem. Imaginei que seria um bom começo para quem pretende atingir mais um Valente FC. Agora seria meu Estado natal, e por certo, dar o pontapé para a conta das 1.000 cidades.
E assim foi, entre os dias 04 a 07/11/2021, consegui visitar e fazer o registro previsto nos preceitos e regras do desafio Valente FC, de 16 municípios do RS. Capivari do Sul – Mostardas – Tavares – São José do Norte – Rio Grande – Santa Vitória do Palmar – Chuí – Pelotas – Turuçu – São Lourenço do Sul - Cristal – Camaquã – Sentinela do Sul – Guaíba – Charqueadas – Porto Alegre.
Como já tinha fotos nas Prefeitura de Aceguá e Jaguarão quando iniciei a BR 153 e BR 116, já são 18 Municípios visitados. Um bom início para quem saiu afim de concluir a BR 101.
Esse foi um projeto sem data para concluir, mas eu estava na expectativa de ver se conseguiria me segurar sem me enforcar na peiteira.
Pois então meus amigos, não consegui me segurar por muito tempo. No dia 22/11/2021, decidi ir para a estrada para fazer umas 35 cidades do RS, e como foi tudo muito rápido não planejei muito, inclusive acabei saindo tarde de Itajaí, tendo como primeiro destino Torres. Cheguei na Prefeitura às 12 h e 50 min, que tem acesso relativamente bem rápido, e assim, dei partida a um roteiro que seria até o dia 25. Mas como estava um clima agradável e pensando bem, já que estou aqui, vamos esticar mais um dia e meio...
E foi assim que consegui passar por 48 Prefeituras do litoral Norte e Grande Porto alegre, retornando para Itajaí no dia 26/11/21, por volta das 22 h, com chuva e congestionamentos na BR 101, de Palhoça a Balneário Camboriú, notadamente em razão de dois acidentes.
Após uma pequena pausa de final de ano, retornei ao RS para continuar a percorrer os Municípios na região da Serra. Parti de Itajaí dia 17/01/22, por volta das 06 h e 30 min, e às 12 h e 45 min já estava em frente à Prefeitura de Glorinha. Meu plano inicial era ficar por lá até quinta-feira e retornar na sexta-feira, dia 21, com 65 cidades visitadas.
Nesse primeiro dia consegui registrar 10 Prefeituras, em um dia que experimentei temperaturas acima de 39 ºC e, no final da tarde, fortes chuvas nas cidades de Nova Rita do Sul e Esteio, onde tive de ficar por 45 min aguardando passar o temporal que se abateu pela região, deixando rastros de muitos danos em residências, árvores caídas e rede elétrica danificada.
No dia 18, iniciei os registros fotográficos pela cidade de Portão, e apesar do calor que atingia o RS, o dia rendeu 23 cidades visto que praticamente todas as cidades são muito próximas. Em Ivoti ainda aproveitei para visitar duas ótimas cachaçarias, a Bockorny e a renomada Weber Haus.
Em Montenegro após fotografar a Prefeitura, fiz um pit stop para um lanche por volta das 17 h, onde o motociclista Luis, dos Gaudérios Estradeiros, parou com sua moto de trabalho de tele entrega para conversar comigo, ao perceber que eu não era da cidade. Contamos algumas histórias um para o outro, coisas de motociclistas. Ele costuma viajar nos finais de semana com sua esposa, em uma moto CB 500 da Honda, e é conhecido na região por “Tchê”.
Na boca da noite cheguei na cidade Barão, as margens da BR 470, e acabei encontrando uma ótima pousada para o pernoite.
Dia seguinte foi interessante, primeiro ao percorrer a RS 122, rodovia Synval Guazzelli, no vale dos vinhedos entre Caxias do Sul e Antônio Prado, passando por Flores da Cunha, onde se verifica a pujança da produção de uva e grandes complexos de vinícolas e hotéis com vista privilegiada do vale.
Na beira da estrada, depois de Flores da Cunha me chamou a atenção uma Igrejinha com uma linda torre de tijolos a vista, isolada e afastada da Igreja. Parei para fotografar e observei que no pé da torre se encontrava um andarilho, vestindo roupa preta, para frio, com várias camadas, e um boné que parecia nunca ter sido lavado, como a própria roupa. Me aproximei daquele senhor com barba branca, que se encontrava agachado em frente a um pequeno fogo de chão, como chamamos no RS, aquecendo uma porção de feijão preto e um angu, em duas latas, tipo das de tinta, de um litro.
Me entristeci ao ver aquela cena, isso era 11 h, com sol de mais de 38 ºC, e ofereci uma barra de cereal e água. Ele aceitou, me agradeceu, conversamos um pouco e solicitei para fazer uma foto, ao que me respondeu anuindo. Uma cena inusitada para aquela região tão rica e bonita do RS, me fez relembrar muitas situações que presenciei nas minhas motoviagens mundo afora.
Após esse passeio espetacular pelo vale dos vinhedos, tive a oportunidade conhecer algumas cidades que ainda não havia estado e que eu nutria a vontade de conhecer in loco. Uma delas foi Antônio Prado, embora pequena, mas é uma das colônias italianas mais antigas no RS, possuí uma arquitetura típica com casas centenárias, em madeira, muito bem preservadas, todas tombadas como patrimônio histórico. O município tem uma forte produção de uva, vinho e cerveja.
Após Antônio Prado, fui para Nova Roma do Sul, onde a estrada está em obras de pavimentação, e restam ainda uns 10 km de estrada de chão, mas bem conservada. De Nova Roma até Pinto Bandeira, pela RS 448, estrada muito sinuosa, em um vale muito bonito, por longo trecho costeando um rio. Uma estrada que merece ser percorrida de moto.
Ainda a tarde, passei pelo Município de Coronel Pilar. Eu tinha uma curiosidade particular em conhecer essa cidade, pois me remete ao Patrono do 1º Regimento de Polícia Militar, ao qual tive a honra de servir por vários anos, na cidade de Santa Maria. Coronel Fabrício Batista de Oliveira Pilar, foi oficial do Exército Brasileiro, que teve grande destaque pela bravura e coragem em várias batalhas, quando defendia a República contra os Federalistas, vindo a falecer em combate heroicamente no ano de 1894.
O Município é pequeno, emancipado de Garibaldi no ano de 1996, conta com uma ínfima população urbana, em torno de 200 pessoas, de um total de pouco mais de 1.800 habitantes. A sede da Prefeitura é modesta, como de resto toda a pequena zona urbana. Como a Sede da Brigada Militar fica quase ao lado da Prefeitura, acabei por fazer umas fotos. Uma casa em madeira, muito bem conservada e limpa, com a disponibilidade de uma viatura policial.
O que chama a atenção no Munícipio, não poderia deixar de ser, é a Igreja que se destaca pela sua imponência, beleza e conservação. Também me chamou atenção o grande casario em madeira, tipicamente do interior, na cor amarela, muito bem conservado, que abriga um “bolicho”, como diz no interior do Estado, onde acabei fazendo o lanche daquela tarde de temperaturas elevadas.
Por outro lado, me surpreendeu o tamanho grandioso da sede da Prefeitura de Poço das Antas, contrastando com a pequenina cidade e população.
Para atingir meu objetivo do dia, acabei pilotando à noite, de Teutônia a Lajeado, onde pernoitei.
No dia seguinte, 20/01, acabei acrescentando mais 8 cidades no roteiro, apesar da temperatura elevada, que chegou a registrar 41 ºC no painel da moto. Fechei o dia na boca da noite em Charqueadas, com mais 19 cidades. O dia seguinte estava reservado para retornar para casa, sem antes fazer o registro em Eldorado do Sul, as margens da BR 290, próximo a Porto Alegre.
Por volta das 16 h de sexta-feira já estava em casa, com mais 74 cidades visitadas.
Dia 28 de janeiro de 2022 parti de Itajaí, SC, com a Wilma, para ela concluir o Rodoviário FC BR 101, visto que faltava tão somente o trecho de Itajaí até São José do Norte, no RS.
Após concluir o desafio com Wilma, em São José do Norte, RS, ainda fui pernoitar em Pelotas.
No dia seguinte partimos por volta das 08 h e 30 min, com destino a Santa Maria, mas eu já havia listado algumas cidades que ficam nesse itinerário, ao longo da BR 392.
E a primeira cidade a ser visitada foi Capão do Leão, onde chegamos às 08 h e 50 min. Cidade pequena, mal cuidada, quase fantasma para um sábado de manhã.
Seguimos para Morro Redondo, que após sair da BR 392, se chega a cidade por uma estrada muito sinuosa, bom asfalto, mas estreita e sem acostamento, com muitos aclives e declives, que a tornam mais perigosa. A cidade bem mais organizada e com uma ótima apresentação.
Retornamos a BR 392 para chegar até Canguçu, cidade das mais antigas da região, que eu passei na porta inúmeras vezes e não havia entrado para conhecer. Me surpreendi positivamente com a cidade, que tem pouco mais de 50 mil habitantes e conta com mais de 160 anos de história. A Prefeitura que fica em frente a uma bela Praça, onde encontramos um senhor aparentando seus 70 anos e algumas cicatrizes que o tempo lhe reservou, o qual se aproximou para conversar. Como de regra supresso com nossa viagem de motocicleta, pela distância e com a Wilma na garupa. Nos prestou algumas informações sobre a cidade e se despediu caminhando com alguma dificuldade.
Abastecemos a moto bem próximo a Prefeitura e seguimos para Santana da Boa Vista, também as margens da BR 392, que eu já conhecia. Cidade pequena, localizada no alto de vários morros, de muitos aclives e declives acentuados, e ruas na sua maioria com calçamento de pedra irregular. A Prefeitura bem modesta, como de resto a pequena cidade.
A próxima parada foi em Caçapava do Sul, as margens da BR 392, Município de pouco mais de 30 mil habitantes, com um passado de história em seus 190 anos de emancipação. Já foi Capital Farroupilha na época da revolução.
Hoje seguramente a economia se baseia na mineração do calcário, sendo um dos principais polos do RS, seguido pela agricultura e pecuária.
Na sequência, partimos para visitar Lavras do Sul, um Município também relativamente antigo, que em maio próximo, completará 140 anos de emancipação. É pequeno, com pouco mais de 7 mil habitantes e parece não ter evoluído muito desde a última vez que estive por lá, nos anos 80. Cidade que fica a 65 km da BR 392 em direção à fronteira com o Uruguai. A estrada e a paisagem típica da região da campanha, são as duas coisas que salvam essa visita. Muitas curvas de média e baixa velocidade, com pavimento perfeito, nos ofereceu prazer em pilotar até a pequena cidade.
Antes de aportar em Santa Maria, passamos para fazer o registro em São Sepé, as margens da BR 392, cidade já muito conhecida e visitada por nós, pois fica distante apenas 62 km de Santa Maria.
Às 17 h e 30 min, estávamos chegando em Santa Maria, onde ficamos hospedados em nosso apartamento.
O domingo reservamos para descanso e ajustar o roteiro que eu havia desenhado para a fronteira com Uruguai e Argentina. O combinado é que a Wilma ficaria em Santa Maria para rever uma irmã e acompanhar uma sobrinha, enquanto eu tentaria fazer em três dias uma grande parte das cidades da região da campanha, num total de 21 Municípios.
Dia seguinte parti às 6 h e 30 min, aproveitando o clima ameno das primeiras horas da manhã, e às 7 h já estava fotografando a Prefeitura de Dilermando de Aguiar. Onde aproveitei para visitar a antiga Estação Ferroviária, que muito representou para aquela população, a qual está relativamente preservada, pois a linha férrea ainda está em atividade para os trens de carga. Como filho de ferroviário, onde vivi minha infância nesse meio, as boas lembranças foram inevitáveis.
As 21 cidades eu já conhecia todas, mas vale ressaltar aos leitores algumas, como a cidade de Mata, conhecida nacionalmente por cidade das florestas petrificadas.
Cacequi também me trouxe boas recordações, pois foi um importante entroncamento ferroviário do RS, onde encontramos uma Estação Ferroviária bem conservada e sendo utilizada pelo Município para abrigar Secretárias, contribuindo assim para a preservação da memória do Município. Entroncamento esse, que no passado teve grande relevância na região, e hoje se encontra estagnado e decadente. Triste ver essa transformação negativa.
Quando estava me aproximando de Alegrete, cidade natal do meu pai, já falecido, foi um momento que muitas lembranças de histórias contadas me vieram a mente, sem eu fazer qualquer esforço. Região que na época tinha na pecuária sua principal atividade, e na qual meu pai trabalhava desde menino.
Em dado momento na estrada, muito bem conservada, até porque é relativamente nova, me deparo com um cenário tipicamente da campanha gaúcha. Diminui a velocidade e rapidamente percebi um tropeiro organizando o gado em uma bela estância. Parei a moto no acostamento, fiz um sinal para o cavaleiro, que se aproximou da cerca com seu cachorro escudeiro. Conversamos um pouco, me chamou a atenção pela formosura da sua montaria, um belo cavalo alazão, muito bem cuidado, com a pelagem linda, lisa e brilhosa, um espetáculo.
Ao me despedir, parabenizei o tropeiro que lidava com o gado, pelo bom trato com sua montaria e também pela organização da propriedade. Comecei a pensar quando eu ainda exercia minhas funções no 1º Regimento de Polícia Montada, em Santa Maria, onde costumava montar a cavalo, no mínimo três vezes na semana, inclusive tive um, também alazão.
Naquele momento eu não deixava de estar montado, pensei comigo de forma silenciosa e solitária. Não em um equino, mas sim, eu estava montado no meu cavalo de aço, que virou minha melhor forma de lazer e prazer. Não tenho dúvidas, que tanto um como outro, nos trazem uma forma de lidar com a vida e nossas emoções, que são similares, e nos mostram um caminho de liberdade e modo de viver.
E assim fluía o pensamento, no sentido que de alguma forma segui os passos do meu pai, ele na lida do campo, e eu viajando o mundo e descobrindo caminhos, montado na minha motocicleta. Mas montado!
Ao adentrar na cidade, em uma das principais avenidas me deparei com o Museu do Gaúcho, onde uma estátua de grande de porte exaltava a figura de um "Gaucho" estilizado, situada entre a cerca e o prédio.
De Alegrete segui para Quaraí, onde as distâncias são largas e as estâncias dão o tom da viagem. O dia rendeu e consegui ir dormir em Itaqui, apesar do forte calor após às 13 h, chegando na boca da noite.
Dia seguinte parti cedinho para Maçambará, por uma estrada que corta lavouras intermináveis de soja. A BR 472 que liga São Borja a Barra do Quaraí, passando por Uruguaiana está em obras de recapeamento, mas ainda tem trechos com muitas imperfeições, muito distantes do tempo em que era quase impossível ver 100 metros de bom pavimento na estrada.
Quando a tarde chegou já estava Bossoroca com a temperatura nas alturas, e um fato inusitado vivenciei no trecho da RS 168, entre a BR 287 e Bossoroca. A estrada que na última vez que havia percorrido, mais parecia um queixo suíço, de tanto buraco, hoje totalmente recapada e com sinalização horizontal revitalizada, você roda praticamente todo esse trecho sentindo as imperfeições do pavimento como se estive em uma estrada de chão, daquelas com infindáveis “costelas de vaca”. Nunca havia passado por uma rodovia nessas condições.
Em Itacurubi, após o registro na Prefeitura, aproveitei para abastecer e fazer um pequeno lanche no Posto de Combustível Mielli, onde encontrei o proprietário Sandro, que também é motociclista. Me contou que em razão do vírus chinês, teve de vender sua moto Shadow 600. Agora está com uma Honda XL 125, ano 1998, que ele mesmo refez para rodar pela região, onde grande parte das estradas são de terra e cascalho. Me reportou também, que planejam ir a Argentina só por estradas de terra, acompanhado de amigos. Trocamos adesivos, pois ele faz parte do MC Os Tauras, de Itacurubi.
No final da tarde já estava de retorno a Santa Maria, com 21 cidades visitadas em dois dias, justamente na região onde as distâncias entre os Municípios são mais extensas.
Com essa antecipação do meu retorno em um dia, não teve jeito, depois de um bom banho já peguei o mapa e rabisquei outro roteiro na região central do Estado, acrescentando mais 8 cidades da região da Quarta Colônia, acrescida de Formigueiro e Restinga Seca, as quais consegui percorrer na manhã do dia 02/02/2022.
Como tinha deixado para registrar algumas cidades as margens da BR 290 quando do meu retorno a Itajaí, rabisquei novamente meu mapa e acrescentei mais 7 Municípios para o dia 03/02.
Ao final do dia fomos para Porto Alegre, onde visitamos meu cunhado Ivan, irmão da Wilma.
Dia seguinte foi só deslocamento para Itajaí, onde chegamos às 15 h, com um total de mais 50 Municípios visitados, bem mais dos 35 projetados.
No dia 20 de abril partimos de Itajaí, SC, com o objetivo de participar do 16º Aniversário da SubSede Planalto Médio, do Moto Clube Bodes do Asfalto, que foi realizada em Passo Fundo no RS. Pernoitamos em Soledade na casa do casal Rui Dipp e Andiara, os quais sempre nos recebem de forma muito carinhosa e atenciosa. Após aquele papo tradicional e um cafezinho, fomos convidados para jantar com os irmãos de longa data, Jorge e Bicudo, acompanhados pelas esposas, e foi uma noite muito agradável de confraternização e bom papo.
Dia 21 partimos de Soledade antes das 9 h em direção a Passo Fundo, acompanhado dos irmãos de Soledade, sem antes eu fazer o registro da Prefeitura de Soledade, que se localiza muito perto da Praça Central e da residência do Brother Rui Dipp.
Chegando a Passo Fundo fomos direto para o evento, que teve um magnífico almoço e a alegria era perfeita entre todos. Encontramos um grande número de irmãos do MCBDA do RS, e tantos outros de SC, os quais conheço na grande maioria, o que muito foi especial. Assunto sobre moto e viagem não faltou, rendeu longas conversas e trocas de informações. E como tudo estava justo entre todos os participantes, a confraternização foi se alongando e chegamos na hora do jantar sem nos dar conta que o tempo havia passado.
Após o jantar nos despedimos dos irmãos, agradecendo o dia de reencontros e encontros, nos recolhemos para o hotel para o descanso merecido.
O dia 22 amanheceu com a temperatura bem baixa e tivemos que reforçar nas roupas de viagem. Após o café, fomos até Prefeitura de Passo Fundo fazer mais um registro para o Valente FC – RS. Localizada na saída da cidade, em direção a BR 285, facilitou nossa chegada e partida. Nossa ideia era pernoitar em Rio do Sul, pois no sábado teríamos outra confraternização da SubSede Foz do Itajaí, em Ituporanga, SC.
Ao longo do itinerário que nos levaria a Rio do Sul, aproveitei para registrar mais alguns municípios, e o primeiro foi Mato Castelhano. A viagem estava tranquila e eu pilotava em velocidade moderada, pois a temperatura ainda era baixa e o Sol não quis dar o ar da graça. Uns 14 km antes de Caseiros, surgiu um alerta no painel da moto informando que a calibragem do pneu traseiro estava baixa. Comecei a monitorar e a pressão do pneu continuava a baixar. Sabia que estava próximo de Caseiros e imediatamente direcionei meu “radar” para encontrar alguma borracharia, ou mesmo um posto de serviço. Na chegada a Caseiros, antes do acesso principal avistei uma borracharia.
Identificado um pequeno furo, foi reparado com “macarrão”, sem a necessidade de remover a roda. Calibrado o pneu, entrei na cidade para fazer o registro na prefeitura. Após as fotos observei novo aviso no painel mostrando que a pressão novamente estava baixa. Como estava perto da borracharia, retornamos e relatamos que continuava a perder pressão. Foi necessário desmontar a roda, e claro que eles não tinham as chaves adequadas. Como sempre rodo com esse kit de chaves, eu mesmo retirei a roda e ainda auxiliei o borracheiro a remover um prego que perfurou o pneu como um anzol, em duas posições.
Vulcanizado o pneu, seguimos viagem, parando novamente em Barracão, onde realizamos o registro na prefeitura e retornamos para a estrada em busca de restaurante para almoçar, pois na cidade não encontramos.
Ao nos aproximarmos da divisa do RS com SC encontramos uma estrada em péssimas condições, com o pavimento totalmente deteriorado. Até parece uma síndrome nas divisas de Estados essa situação, pois tenho observado em muitas regiões, especialmente quando não se trata de uma rota principal.
Chegamos em Rio do Sul no final da tarde, com o trecho percorrido em boas condições e com pouco tráfego.
No sábado participamos juntamente com os Brothers de Itajaí, de uma ótima confraternização no Park Hotel Clasen, um local muito aprazível e com várias opções de lazer.
No domingo tomamos o café com os irmãos motociclistas, mas partimos rapidamente, pois eu precisava chegar em casa antes do meio-dia, para buscar o Number One e minha nora que estavam chegando de viagem, no aeroporto de Navegantes. Ao final tudo ocorreu como planejado e foi mais uma viagem de grandes encontros e muita alegria.
No dia 11 de maio retomei o desafio Valente FC – RS, partindo de Itajaí, SC, agora com a moto XRE 300 que eu havia adquirido a pouco tempo. A tocada até chegar a primeira cidade a ser visitada no RS, Barra do Ribeiro, foi bem tranquila, em velocidade que variou entre 100 e 110 km/h, só pista duplicada por 586 km. A ideia inicial para esse primeiro dia seria 5 municípios, mas como eu havia combinado de visitar um colega de turma de Aspirante 1980, em Tapes, acabei deixando para o dia seguinte a cidade de Sertão Santana.
O acesso a Mariana Pimentel não tem pavimentação asfáltica, mas a estrada estava muito boa e não tive qualquer dificuldade com a moto XRE 300, que se comportou muito bem, permitindo manter uma velocidade em torno de 70 km/h.
O reencontro com meu colega Rosado foi ótimo, relembramos muitas histórias e tive a grata satisfação de saber que seu filho, que reside em Curitiba é motociclista e está iniciando a realizar grandes viagens. E para coroar o encontro não pode faltar um suculento churrasco feito por um fraterno amigo nascido na campanha, em Santana do Livramento.
No dia seguinte recuperei o município do dia anterior, Sertão Santana, onde aproveitei para fazer uma limpeza e lubrificação no conjunto da relação da moto. Depois segui para Cerro Grande do Sul, acesso desde a BR 116, de estrada de chão, com trechos bons e outros nem tanto, mas com a XRE 300 foi um passeio, pois a moto demonstrou ter uma suspensão muito macia.
Na sequência fui fazer o registro em Arambaré, Chuvisca e Dom Feliciano, e já no final da tarde voltei a BR 116 para pernoitar na cidade de Cristal, percorrendo no dia 396 km.
Na manhã seguinte após o café, observei que havia muita neblina e a temperatura estava em torno dos 6 graus. Segui para Amaral Ferrador, trecho todo de estrada de chão, na maior parte bem conservada, muitas curvas, e nas primeiras horas da manhã praticamente sem movimento. Cheguei em frente a Prefeitura ainda com muita neblina e frio. Um funcionário da pequena Prefeitura veio conversar, pois também curte o motociclismo. Me ofereceu café e me falou um pouco da jovem cidade que estava completando 34 anos de emancipação.
Depois de registrar a Prefeitura de Arroio do Padre, fiz uma parada em Pelotas para almoçar com meu estimado Brother Rui Araujo, que também está realizando o desafio Valente FC – RS. Colocamos a conversa em dia e o Rui me acompanhou até o entroncamento da BR 116 com BR 293, onde nos despedimos, para eu seguir em direção a Arroio Grande, mais ao Sul.
Na sequência foi a vez de visitar Herval, cidade conhecida na região Sul como Sentinela da Fronteira, pois faz limite territorial ao Sul com o país vizinho, Uruguai. Depois segui para Pedro Osório e Cerrito, cidades distantes 4 km uma da outra. A prefeitura de Cerrito estava em obra de manutenção e pintura externa, aliás tanto a sede da Prefeitura como a cidade, é muito acanhada.
No final da tarde cheguei a Piratini, cidade história do RS, foi a capital da República Rio-Grandense no período da Revolução Farroupilha entre os anos de 1836 a 1845. Possuí vários prédios tombados e parece viver da história, pois avançou muito pouco em desenvolvimento sócio-econômico desde lá. Logo ao chegar na cidade tive tempo de buscar uma barbearia para cortar o cabelo, onde ouvi boas histórias do barbeiro que se vestia a caráter, com traje tradicional gaúcho.
Após fazer o registro na Prefeitura, fiz um giro pela cidade para fazer algumas fotos, visto que no dia seguinte seria sábado, e os museus estariam fechados a visitação.
Para fechar o dia me hospedei no Hotel Farroupilha e fui jantar no Restaurante Pialo, muito bom. Apesar de ser turística, a cidade carece de hotelaria e restaurantes.
Sábado pela manhã com temperatura de inverno antecipado e nevoeiro, segui para Pinheiro Machado e de lá para Pedras Altas. A estrada foi uma das piores que já transitei. Seguramente havia muito tempo que não tem manutenção, pois as erosões eram absurdas. E um pequeno trecho que um dia foi asfaltado se transformou em uma terrível armadilha, um perigo para qualquer veículo.
Fiquei impressionado como os caminhões e até as carretas que transportam a produção de gado da região, circulam por aquela rodovia estadual, RS 608. Um crime contra os produtores da região.
Chegando nessa pequena cidade, que se emancipou em 1996, e que mais parece continuar uma pequena vila, como na sua fundação, e que passou a ter importância na região pela linha férrea e estação, que por lá foi construída nos idos de 1898. Mas a localidade passou a ser conhecida com o estabelecimento da Granja Pedras Altas, pelo seu idealizador Joaquim Francisco de Assis Brasil. Ele foi um homem que estava bem além de seu tempo, advogado, diplomata, e político proeminente no RS, e no Brasil, trouxe das suas visitas ao exterior grandes avanços para a agricultura e pecuária brasileira, sendo pioneiro no confinamento da raça Jersey e da ordenha no país.
A propriedade que tive o privilégio de visitar, apesar de estar fechada ao público para manutenção e reforma pelo novo proprietário. Os herdeiros da família Assis Brasil acabam de vender a propriedade para um empresário de Santa Maria, RS.
A partir de informações do proprietário do posto de gasolina local, me aventurei a tentar entrar na propriedade. A esposa do encarregado da propriedade após minha apresentação, se dispôs a fazer um telefonema ao marido, que autorizou eu entrar a pé.
Estava me aguardando próximo ao belo Castelo das Pedras Altas, construído pelo Joaquim F. Assis Brasil. Após minha apresentação, argumentação do meu projeto de viagem, de onde vinha e tal, se estabeleceu uma empatia instantânea e ele me mostrou toda a propriedade, exceto adentrar ao castelo, pois está todo monitorado por câmaras e só o proprietário autoriza quando por lá está, de abrir a visitantes antes da conclusão das reformas projetadas.
O projeto contempla a recuperação total do castelo e demais dependência da propriedade para futura visitação turística.
Alguns dados que o Enio me passou é de impressionar à primeira vista, como os 12 quartos do castelo, cada um com lareira. A construção teve início em 1903 e sua conclusão em 1013, e ao todo são 44 cômodos e possuía iluminação que usava um tipo de gás a base de carbureto produzido por uma engenhoca, que canalizava até as luminárias.
A propriedade é um espetáculo, arquitetura em estilo medieval e inspirações nos famosos castelos europeus, e nos faz pensar sobre a sua construção com tanta qualidade e beleza naquela época que o acesso a tudo era difícil. A biblioteca do castelo segundo me informou o Enio, é a segunda maior biblioteca particular da América Latina e conta com aproximadamente 25 mil livros.
Uma raridade ameaçada pelo abandono dos herdeiros com a manutenção do castelo, que sempre foi um sonho de Assis Brasil em transformá-lo em uma propriedade aberta a população, especialmente a biblioteca. Mas isso só agora parece ter uma real possibilidade, pois jamais foi realizado. O castelo parece ser a razão de Pedras Altas existir até os dias de hoje.
Chama a atenção de qualquer visitante atento, uma frase nos ladrilhos de acesso ao castelo mandado insculpir por Assis Brasil.
“Bemvindo a mansão que encerra. Bura(Dura) lida e doce calma: O arado, que educa a terra: O livro, que amãnha a alma.”
Espero ainda ter o privilégio de poder retornar e visitar o Castelo das Pedras Altas, após sua restauração e abertura ao público. Digo isso pois presencie intenso trabalho na propriedade, o que me permite essa esperança.
Após várias fotos e agradecer a cordialidade e atenção do Enio, me despedi dele e da família e ainda fui fazer alguns registros da pequena cidade.
Segui para Candiota, mas por uma estrada municipal que liga as duas cidades, passando pela Usina Termoelétrica Presidente Médici, antes de chegar à cidade. Estrada de terra que estava em ótimas condições de trafegabilidade, infinitamente mais segura que a RS 608 para Pinheiro Machado.
Feito o registro em Candiota, ainda deu tempo para uma paradinha no monumento a Batalha do Seival, as margens da BR 293. Depois foram Bagé, Dom Pedrito, Santa do Livramento e terminei o dia em Rosário do Sul, terra do FC Rui Araújo, e cidade da praia das areias brancas, do Rio Santa Maria, onde pernoitei.
Dia seguinte, um domingo que amanheceu chuviscando, segui para registrar a prefeitura de São Gabriel. Uma tristeza ao chegar em frente à prefeitura, um prédio que é histórico, com sua construção em estilo capitólio de 1922, embora com boa pintura, sua entrada principal estava completamente tomada de pichações.
O registro dos municípios de Santa Margarida do Sul e Vila Nova do Sul foi rápido, pois as duas cidades estão localizadas nas margens da BR 290.
Antes de me deslocar para Santa Maria, onde a Wilma me esperava, fiz um desvio para a direita na BR 392, em direção a Santana da Boa Vista, para fazer uma visita ao grande irmão e motociclista Sezefredo Lopes. Estava em sua nova morada no interior do município e tive certa dificuldade de chegar, pois com a chuva a estrada estava difícil de rodar. Pelo caminho, me deparei em uma colina, com seis caminhões transportando madeira, atolados e impedindo o tráfego devido a estrada municipal ser muito estreita. Como eu estava de moto, consegui passar com cautela por um pequeno espaço de um metro entre os caminhos e a vala.
A recepção foi típica da campanha, churrasco, comida campeira da melhor qualidade, e doces caseiros, tudo feito pela família. De quebra conheci a D. Rosa, mãe do Lopes I, o seu irmão Alci, e cunhada Neiva. Foram momentos de confraternização e alegria, em um ambiente muito aconchegante e que tem uma importância afetiva muito grande ao meu Brother, com uma linda vista da região, justificando o nome da propriedade de Bela Vista.
Antes do entardecer enfrentei mais um pouco do barro até chegar a BR 392, que me levaria a Santa Maria, onde cheguei por voltas das 17 h e 30 min.
Na segunda-feira foi dia percorrer algumas cidades da região que não dispõem de acesso pavimentado. Segui para Toropi, depois para Quevedos. Na minha última estada em Quevedos, a localidade ainda era Distrito de Júlio de Castilhos. Foi um dos lugares que me surpreendeu muito nessa minha incursão pelo RS, pois pude constatar um crescimento relevante e muito bem planejado, com prestadores de serviço atenciosos, estabelecimentos com ótimo padrão, limpeza de dar inveja em muitas cidades antigas ou badaladas. Gostei muito.
Outra cidade que fiquei feliz de rever foi Jari, antes Distrito de Tupanciretã, muito parecida com o padrão de Quevedos. Registro meus cumprimentos a população e as administrações destas duas cidades.
Antes de retornar a Santa Maria, foi a vez de passar por São Martinho da Serra, que me pareceu não ter mudado muito, além da estrada de terra que está em obras para pavimentação. Espero que a chegada do asfalto favoreça o crescimento do Município.
Dia 17 segui em direção a Quarta Colônia, próximo a Santa Maria, onde comecei por Pinhal Grande, distante 97 km. Depois por estradas municipais de terra, com algumas Serras e muita mata, cheguei a Ivorá. Outra cidade que se desenvolveu significativamente, especialmente em razão da boa gastronomia italiana, o turismo religioso e as belas cachoeiras da região.
Estando da cidade, me lembrei que um grande colega da Brigada Militar, e que também foi Prefeito da cidade, Major Binotto, possuí residência no Município. Fiz contato através de uma funcionária da Prefeitura, pois meu telefone da Claro estava sem sinal.
Combinamos de almoçar juntos e me permitir dar um abraço fraterno, o que rendeu uma ótima conversa, e depois ainda tivemos tempo para conhecer a residência do amigo e tomar um café passado. Um dia de boas lembranças.
Retornado a Santa Maria, deixei a motoca para descansar até o próximo roteiro.
Dia 02 de julho segui para Santa Maria, pernoitando em Porto Alegre, chegando no dia seguinte a fim de preparar a motoca e a mochila...
Em razão de alguns compromissos agendados e minha carteira de habilitação estar por vencer, acabei permanecendo até o dia 05, quando renovei minha CNH, pois vencia no dia seguinte.
Tudo encaminhado e com a CNH renovada, de posse da versão digital, parti na terça-feira, 06/07 para cumprir o roteiro que havia rabiscado com o auxílio do mapa rodoviário do RS, que baixei do site do DAER-RS.
Moto pronta, parti para a ruta com o primeiro pit stop em frente a Prefeitura de Júlio de Castilhos, cidade onde iniciei o exercício da minha primeira função de comando como oficial, no ano de 1981. Boas lembranças voltaram a minha mente, pois sem dúvida foi uma prova “de fogo”, para quem a poucos meses havia saído da Academia. A cidade na época tinha fama de violenta e os índices corroboravam. Além de ter um efetivo com alto índice de indisciplina e eivado de maus vícios, técnicos e comportamentais, e com pouco apoio da população e autoridades.
Fui assumir a função de Comandante muito contrariado, pois pretendia ficar em Santa Maria para cursar Direito na UFSM, mas com o passar dos anos, fiquei grato por ter tido aquela oportunidade. Foi uma verdadeira escola de comando de fração isolada, que me proporcionou aplicar com independência os conhecimentos adquiridos na Academia, obtendo resultados muito positivos em todos os aspectos, tanto para a segurança da população, interação com as demais autoridades, controle e aprimoramento do efetivo empregado no policiamento ostensivo e administrativo. Bateu a saudade daqueles tempos difíceis, mas exitosos, que me levaria a granjear o respeito e a confiança de muitos Comandantes, com os quais tive a oportunidade de ombrear.
A cidade melhorou muito nos últimos anos, apesar do grande retrocesso das Cooperativas de grãos e carne.
Em frente Prefeitura, onde participei de muitas reuniões estratégicas para o município, fiz o registro sob o olhar de muitas pessoas, especialmente as que se encontravam sentadas nos bancos da praça.
Cruzei a cidade pelas Avenidas Borges de Medeiros e Getúlio Vargas, agora asfaltadas, para tomar a RS 527 em direção a Tupanciretã. Estrada sem pavimentação, mas em bom estado de conservação, muito diferente dos anos 80.
O GPS estava roteado direto para a Prefeitura Municipal, no centro da cidade, a qual não me surpreendeu muito. Após o devido registro, igualmente cruzei a cidade para buscar o acesso da BR 392 que me levaria a retornar a BR 158. E para manter a tradição ao passar por esse trecho da estrada, fiz uma parada para comer o tradicional pastel no Posto Botoqueiro, que é muito bom e mantém a qualidade há muito tempo.
Antes um pouco de Cruz Alta, virei à direita em direção a Boa Vista do Incra, pela BR 481. Munícipio pequeno, com menos de 1.500 habitantes, que fora emancipado em 1996. Embora possua ótima apresentação, até por ser uma cidade nova, mas carente de infraestrutura, como de regra os municípios desse porte.
Retornando a BR 158, cheguei a Cruz Alta por volta das 12 h e 50 min, e igualmente fui direto fazer o registro da Prefeitura, que fica em frente à praça central. O Palácio da Intendência, como é conhecido por ser um prédio histórico, construído a partir de 1911 e concluído em 1914, estava com “tapume” a sua volta face a restauração em andamento, com vistas as comemorações de aniversário de emancipação do Município.
Aproveitei esse momento para comer uma barra de cereal e me hidratar, ali mesmo, na praça, e segui para Boa Vista do Cadeado, para depois chegar em Ijuí, que na língua Guarany significa “Rio das Águas Divinas”, uma das principiais cidades da região. Ijuí continua, como sempre bem cuidada e crescendo, e é uma referência regional na prestação de serviços.
A seguir registrei as cidades de Catuípe, Augusto Pestana e Joía. Finalizei o dia registrando Coronel Barros, onde o irmão e parceiro de grandes aventuras, Edson Steglich me aguardava na casa do seus pais, Sr. Orlando e Sra. Hertha. Para manter a tradição e a fraternidade, preparou um ótimo churrasco que foi servido com um excelente vinho, e a boa conversa se estendeu até por volta das 22 h e 30 min, com muita história na roda. Ouvir a história da família Steglich, de origem alemã, e da D. Hertha, de origem russa, sempre nos mostra bons exemplos e lições de vida. Um privilégio!
Na manhã seguinte, D. Hertha já estava com a mesa pronta para o café logo cedo, tipo 7 h e 30 min, que mais parecia hotel cinco estrelas, ou aquele tipo café colonial, enquanto Sr. Orlando tomava seu chimarrão matinal.
Aí não teve jeito, o papo continuou no café e se estendeu até lá pelas 10 h. Como não estava com presa até esqueci do relógio. Registrei minha estada na casa dos pais do Edson e tive de que despedir para voltar as rutas.
Comecei por Eugênio de Castro, Entre-Ijuís, Santo Ângelo, esta última, uma das cidades mais importantes da região das Missões, e segui até Vitória da Missões.
Na sequência foi a vez voltar a cidade ícone missioneira, São Miguel das Missões, onde está a missão jesuítica mais importante e preservada do Brasil. O Sítio Arqueológico de São Miguel das Missões é um dos principais pontos turísticos do RS e foi declarado Patrimônio Mundial pelo UNESCO em 1983. Quem tiver oportunidade, não deixe conhecer, e reserve um período razoável, pois a região das Missões é bastante extensa e possuí muita história.
Depois de passar por Caibaté e Mato Queimado, fui a Rolador antes de entrar em São Luiz Gonzaga, onde a RS 165 está em obras de pavimentação, com muitos desvios e trechos ruins.
Minha intenção era de pernoitar em Santo Antônio das Missões, para no dia seguinte fazer o trecho de 60 km de estrada de chão para Garruchos, mas após o registro na Prefeitura fui conferir o hotel e a pousada disponível, e embora eu não seja muito exigente, não me atrevi a encarar o que me foi apresentado. É bem verdade que no hotel, havia apenas um quarto disponível, não conheci os demais.
Assim, retornei à São Luiz Gonzaga já na boca da noite, onde a oferta de hotéis é melhor.
Na manhã seguinte, 07/07, parti para ruta por volta das 8 h em direção a Garruchos. A RS 176 que parte da BR 285 em Santo Antônio da Missões, não é pavimentada, mas estava em boas condições e não trouxe qualquer dificuldade para a chegada na cidade que fica às margens do Rio Uruguai, fronteira com a Argentina.
As instalações da Prefeitura são bem acanhadas apesar de ter sido emancipada em 1992, e a cidade de modo geral se apresenta muita precariedade. Aproveitei para descansar um pouco em frente à Prefeitura, comer uma maça e me hidratar, enquanto fazia o registro fotográfico. Logo vieram alguns funcionários conversar e não tardou apareceu o Prefeito Roland, Sr. de fala mansa e muito simples. Após eu utilizar o sanitário da Prefeitura que me foi franqueado, o Prefeito e um funcionário me convidaram conhecer a barranca do rio, onde está sendo construído a rampa de acesso da balsa para travessia ao lado argentino, que já está pronta. Também estão realizando uma obra com espaço de lazer na margem do rio.
Com as informações precisas do Prefeito e funcionários, segui por algumas estradas municipais em direção a São Nicolau, diminuindo o tempo e menos km em estrada de chão. Na divisa dos municípios a travessia sobre o Rio Piratini é realizada por uma balsa, daquelas antigas, onde o balseiro usa a guia de um cabo de aço e a força da correnteza para movimentar e atracar a balsa, um sistema bem rudimentar.
Depois da travessia, a cidade de São Nicolau fica distante uns 10 km da margem do rio, com estrada estreita, mas em boas condições.
São Nicolau, que eu não conhecia, atendeu minhas expectativas, pois é rica com sua história desde os tempos das Reduções Jesuíticas. Destaca-se com o prédio da Prefeitura que tem uma história importante a nível nacional, onde funcionou uma Unidade do Exército. Entre outros pontos históricos e turísticos da cidade, se sobressai o Sobrado da Família Silva. Construção que data de 1903, imponente para a época. No momento da minha visita um professor e historiador local, ministrava palestra a uma turma de jovens alunos de uma escola municipal. O velho casarão fora construído com pedras das Reduções Jesuíticas, o que talvez explique sua resistência. A cidade é muito aconchegante e muito organizada.
Segui para Dezesseis de Novembro, Roque Gonzales e depois a Pirapó, por uma estrada municipal e onde novamente fiz outra travessia do rio por balsa. Mas essa era um pouco mais moderna, além da guia do cabo de aço, possuía um pequeno motor que auxiliava e tornava a travessia da balsa mais rápida.
Retornei pela mesma balsa e segui para os registros dos municípios que ficam as margens do Rio Uruguai, divisa com a Argentina. A começar por Porto Xavier, Porto Lucena, Porto Vera Cruz, e depois de passar por Santo Cristo e Alecrim, voltei a fronteira com Argentina para registrar Porto Mauá. Todos esses municípios fronteiriços possuem travessia de balsa para a Argentina, todos ligados por pavimentação asfáltica.
No final da tarde passei por Tuparendi e na boca da noite registrei Santa Rosa, outra cidade referência regional, onde pernoitei.
A sexta-feira amanheceu fria e com nevoeiro. Por volta das 8 h e 30 min parti para Candido Godoi, depois Campina das Missões, cidades pequenas, mas muito bonitas e bem cuidadas, onde se observa uma população laboriosa. Campina das Missões é o município do RS com a maior colônia de descendentes russos, vindo da região da Sibéria, que se dedicam a manter os costumes, a fé e a sua cultura.
Uma boa surpresa foi na chegada ao Município de São Paulo das Missões, onde a etnia predominante é alemã, e é conhecida como o “Cantão Suíço das Missões”. Ao circular na pequena cidade, muito florida e cheirosa, realmente parece estamos num pedaço da Suíça em razão do estilo das construções. O cuidado com a cidade é algo que se observa sem qualquer esforço, tornando a cidade bonita e acolhedora.
A próxima cidade que registrei foi São Pedro do Butiá, também muito organizada e bonita, com sua população também de origem alemã, vindos da região de Hunsrück. A quantidade de caminhões transportando suínos nas rodovias do entorno, justificam o título de ser o município gaúcho maior produtor per capta de leitões. Só é remendável ficar afastado, mantendo boa distância, ou ultrapassar rapidamente...
O próximo registro foi Salvador das Missões, pequena cidade com aproximadamente 3 mil habitantes, onde predomina a agricultura com pequenas propriedades e uma grande diversidade de culturas. É conhecida na região como a “Terra do Cooperativismo”.
O Município na sequência, Cerro Largo, o qual também não conhecia, e foi muito gratificante perceber que uma cidade com pouco mais de 13 mil habitantes, com a população de forte etnia alemã, pulsa uma economia vibrante, com indústria e comércio forte, além da agricultura diversificada. A cidade é bonita, preserva sua cultura através de casas e construções com estilo arquitetônico “Enxaimel”, que chama atenção pela característica típica.
Depois de fazer uma incursão para o registro do pequeno município de Ubiretama, por uma estrada vicinal, estreita e sem acostamento, segui pela BR 392 até Guarani das Missões. Pouco antes de entrar cidade, entrei em uma estradinha para conhecer o Santuário Nossa Senhora da Czestochowa, na Vila Bom Jardim. Lugar de muita tranquilidade e que literalmente é um verdadeiro jardim.
A cidade é conhecida como a “Capital Polonesa dos Gaúchos”, embora hoje possuí uma miscigenação de etnias, como suecos, primeiros colonizadores, italianos, alemães, russos, nativos, portugueses, tchecoslovacos, austríacos, espanhóis e ucranianos. A cidade se destaca pela agricultura familiar com diversidade de cultura, e a pecuária leiteira. As construções se destacam pela peculiaridade das etnias.
Para fechar o dia por volta das 13 h, registrei as prefeituras de Sete de Setembro, Giruá e Senador Salgado Filho. Depois de um rápido lanche iniciei meu retorno a Santa Maria, pois tinha um compromisso social em Caxias do Sul, no sábado.
A região da Missões é um manancial de cultura e história que merece ser visitada, e que se pode dar uma espiada em: https://www.rotamissoes.com.br/
Continua no próximo post!
Após o intervalo de dois dias no roteiro do desafio Valente FC - RS, retornei as rutas na segunda-feira, 11/07, por volta das 10 h, logo após realizar a revisão dos 6 mil km da XRE 300 na Concessionária Honda Nicola em Santa Maria.
Cheguei a Pejuçara por volta das 13 h, e após rápido lanche e abastecimento da moto, retornei as rutas com azimute em direção ao Município de Bozano e Ajuricaba, já na região noroeste do RS.
Seguindo no sentido norte pela RS 155, até o entroncamento com uma estrada municipal para Nova Ramada, com aproximadamente 8 km de terra. Pequeno município formado por alguns distritos espalhados, que fica até difícil identificar a sede do município. Por pouco não “passei batido” onde estava localizada a Prefeitura, de tão pequeno o povoado. A região tem origem nas tribos kaingang e guaranis, e só por volta do ano de 1900 chegaram os portugueses e africanos. A cidade é atualmente conhecida pelo fato histórico do “Combate da Ramada, ocorrido naquele território no ano de 1925.
Continuei pela RS 155 até Santo Augusto, cidade de pouco mais de 13 mil habitantes, parece bem organizada, comércio forte, limpa, bonita e aconchegante. Fiz o registro e não me demorei, seguindo para São Valério do Sul. Ao passar pelo Posto da Polícia Rodoviária Estadual, fiz uma parada para buscar informações sobre as estradas da região, especialmente as não pavimentadas, e acabei ficando por uns 20 min conversando e relembrando os bons momentos de quando estive no comando da 3ª Companhia de Polícia Rodoviária, com abrangência de mais da metade da área do RS.
Com informações precisas das condições das rodovias, cheguei com facilidade a Chiapeta, Inhacorá e Alegria. O trecho de Alegria para Independência até chegar a RS 342 é municipal de terra, em boas condições na quase totalidade.
De Independência que fica as margens da RS 342, apenas fiz o registro e segui com objetivo de chegar com a luz do dia em Três de Maio, onde projetei pernoitar por ser uma cidade com melhor infraestrutura hoteleira. Como via de regra as prefeituras estão situadas no centro e próximo à praça central, segui nesse azimute e fiz o registro já ao entardecer. Busquei informações nos aplicativos para ver a opções de hotel, ali mesmo em frente à prefeitura.
Depois de me instalar no hotel busquei informações de local para cortar o cabelo. Me foi indicada uma barbearia bem próxima ao hotel, bem como um bom restaurante. A barbearia de propriedade de um vereador, que estava atuando naquele momento, no Plenário da Câmara. Seu filho que está trabalhando com ele cortou meu cabelo, enquanto ouvíamos os pronunciamentos e manifestações dos vereadores pela rádio local.
O jovem barbeiro de 25 anos, também é professor de geografia, com boa desenvoltura, e no papo que entabulamos sobre temas diversos, me surpreendeu positivamente pelo nível de informação e coerência. Contou a história do pai, que é, segundo ele, “doido de pedra”, mas como é correto e verdadeiro, mesmo sendo polêmico, já está no seu sexto mandato.
A chuva que começou a cair muito forte na cidade, praticamente me deixou ilhado por uns 30 min no local, e a conversa foi até a chuva dar uma trégua, quando fui rapidamente ao restaurante para jantar. Cardápio da noite foi um bife de chorizo muito delicioso.
Na terça-feira voltei paras rutas por voltas das 8 h, com uma temperatura em torno dos 10 graus, e eu já me preparava para encontrar alguma estrada com barro pela frente.
Passando por Horizontina, fiz o devido registro e cruzei a cidade que continua em crescimento e desenvolvimento na região, visto contar com um parque industrial importante, com a fábrica de maquinas e implementos agrícolas da Jhon Deere, que gera milhares de empregos e riqueza para a cidade.
Na sequência fui a Tucunduva, depois em direção ao Rio Uruguai para registras os Municípios de Novo Machado e Dr. Maurício Cardoso, todos com acesso pavimentado.
Retornei à RS 342 para chegar a São José do Inhacorá, por um acesso novo, cuja pavimentação está concluída, faltando apenas a construção de uma ponte. Passei por Boa Vista do Buricá, antes de chegar a Nova Candelária. Cidade de etnia alemã, que pode ser sentida por todos os lados com suas construções típicas e bonitas, nos remetendo para uma atmosfera completamente germânica, pois para onde se girar a cabeça, tem uma construção alemã, belos jardins e praças.
Fiz uma parada no Posto de Serviço e lá encontrei o proprietário, motociclista Rogério. Estava com a moto pronta para fazer uma viagem pela América do Sul com amigos. Acabei ficando por mais 30 min, trocando ideias e ouvindo histórias de boas viagens, enquanto degustava um café.
Com boas informações do Rogério segui para Humaitá. A estrada municipal de terra, com parte dela empedrada, e apesar da chuva do dia anterior, estava em bom estado. Depois para Crissiumal já tem pavimentação. Feito o registro segui para Tiradentes do Sul, novamente por estrada sem asfalto, mas com boa base de pedra, permitindo uma pilotagem segura, pois não havia barro.
Esperança do Sul também possuí acesso por asfalto e não demorei para chegar e fazer o registro. Segui para Três Passos, a cidade mais importante da região com pouco mais de 20 mil habitantes. Como já se aproximava das 16 h, fiz o registro rapidamente e segui para Sede Nova e São Martinho, as duas com acesso por estrada de terra, e como não queria pegar a noite por uma estrada que eu não conhecia, não me demorei. Toda a região é forte na agricultura e algumas estradas cortam as lavouras em terra natural, que com a chuva do dia anterior eu poderia ter dificuldade.
Tive sorte que essas estradas possuem pouco tráfego e a chuva foi rápida, daquela do tipo que lava a terra. Só havia alguns trechos barrentos onde tinha alguma depressão na estrada. Consegui chegar a Campo Novo no final da tarde, fiz o registro na prefeitura que fica no segundo piso da sede do Banco do Brasil. Verifiquei que na próxima cidade não teria hotel, fiquei para pernoitar em Campo Novo, onde existe dois hotéis.
Na quarta-feira o primeiro município do roteiro foi Braga, distante uns 12 km, que embora tenha quase 60 anos de emancipação, continua com sua população na casa dos 3.500 habitantes. De Braga segui por estrada municipal para Coronel Bicaco, que estava em boas condições apesar do piso estar unido, estava bem compactado e empedrado. Para Redentora o acesso é pavimentado, mas a estrada estava bem deteriorada. A agricultura é forte em toda região, e alguns municípios com boa produção de suínos e leite.
O trecho desse roteiro com pouco mais de dificuldade foi Redentora para Dois Irmãos das Missões. Estrada com uns 3 km muito bom, estrada larga e empedrada, depois apresentou alguns pontos com erosão e barro. A divisa dos municípios é o Rio Guarita, e ao atravessar a ponte de madeira existente, surgiu um corredor de terra vermelha cortando as lavouras. O cenário espetacular, verde por todo lado. Até chegar a Dois Irmãos das Missões foi terra natural e alguns pontos com barro. Cidade apesar de pequena demonstra ser muito bem organizada, limpa e agradável ao visitante.
Retornei pela mesma estrada até a RS 330 e segui para Miraguaí. Esse trecho da rodovia está muito deteriorado, com muitos redutores de velocidade em razão dos povoados indígenas ao longo da rodovia. A sede da prefeitura está localizada as margens da rodovia e rapidamente fiz o registro e segui pela mesma RS até Tenente Portela. Feito o registro na prefeitura, fui até uma farmácia para comprar um medicamento, o qual só encontrei na quarta tentativa. Mas não demorou, pois havia uma ao lado ou em frente a outra. A profusão de farmácias é algo intrigante. Tenente Portela, juntamente com Três Passos e Frederico Westphalen são os municípios mais importantes da região e dão sustentação aos demais municípios, especialmente na área da saúde, comércio, serviços e órgãos públicos.
Parti em direção ao Município de Derrubadas por volta das 12 h e 30 min, onde se encontra o Salto do Yucumã. Eu havia deixado a tarde para visitar o Parque Estadual do Turvo. Depois do registro da prefeitura, fui até o Centro de Informações Turística, em frente da Prefeitura. Espaço muito amplo e bom atendimento. Mas a informação de que o Parque é fechado nas terças-feiras e quartas-feiras foi frustrante. Aí foi assimilar e pensar em retornar, pois o local é um dos mais bonitos do RS, com muitas cachoeiras.
Retornei as rutas para continuar a lista de cidades do roteiro e passei por Vista Gaúcha, fui até Barra do Guarita e Palmitinho. Esta última eu não conhecia e me surpreendeu, apesar de possuir uma população de pouco mais de 7 mil habitantes. Tem boa infraestrutura, com bons hotéis e restaurantes, além de observar um número razoável de indústria, comércio forte e a agricultura que é referência na região.
Após colher informações, segui para Pinheirinho do Vale, onde a estrada de 18 km está em obras de pavimentação, com muitos desvios e maquinas na estrada.
A tarde ainda rendeu Vista Alegre, Taquaruçu do Sul, Frederico Westphalen, Caiçara, Vicente Dutra e Iraí.
Frederico continua a crescer e conta com uma população de pouco mais de 30 mil habitantes, com boa infraestrutura, possuí um comércio importante para a região, indústria do setor metalúrgico e forte agricultura familiar.
Cheguei no final da tarde em Iraí. Tinha tempo que não entrava na cidade, e nada mudou, parece continuar parada no tempo, comparando com outras da região. Iraí já foi um importante ponto turístico do RS, com suas águas termais e hotéis. Hoje em sua maioria defasado pelo tempo. A cidade parece estagnada. Acabei pernoitando por lá.
A quinta-feira começou com chuva e já parti com roupa de chuvas para a estrada, já retornando para Santa Maria, mas continuando a visitar as cidades pelo trecho. Passei por Seberi, Erval Seco, Cristal do Sul, Rodeio Bonito e Pinhal. A chuva não deu trégua e em Cristal do Sul esteve mais forte e precisei do apoio de uma funcionária da prefeitura, que me auxiliou com o empréstimo de um guarda-chuva para que eu fizesse o registro fotográfico.
Segui para registrar o município de Jaboticaba, Boa Vista das Missões e Palmeira das Missões. Estradas vicinais, estreitas, sem acostamento, com muitas curvas, mas em bom estado. As cidades me chamaram a atenção por um certo ar de prosperidade, ao estilo bem cuidada e organizada.
A chuva continuava mansa, mas persistente até a cidade de Condor. Cidade pequena e bonita, tendo a agropecuária sua principal atividade, com algumas indústrias. Com etnia alemã, tem na Oktoberfest sua principal expressão cultural.
No deslocamento para Panambi, última cidade a registrar no dia, a chuva deu uma trégua quando parei para fazer um lanche, pouco antes do acesso ao município. A cidade é das mais importante na região, de origem germânica e italiana, respeitada no RS pelo seu parque industrial metal-mecânico, e estar no top das cidades do Estado. Cidade pujante, conta com Campus Universitário que oferece suporte para a micro-região.
De Condor retornei a Santa Maria, com mais 98 cidades registradas.
Minha última e derradeira incursão no RS, desta vez para concluir o Desafio Valente FC, iniciou no dia 05/10/2022, com meu deslocamento para Santa
Maria.
Tudo pronto, dia 07 parti para chegar a primeira cidade, Passa Sete, de um roteiro que previa 170 cidades para fechar o desafio. Passa Sete fica 140 distante de Santa Maria e cheguei na cidade por volta das 10 horas, para dar início a um roteiro que seria desafiador, não só pelo número de municípios, mas pelo roteiro que se impunha, truncado e com muitas rodovias sem asfalto.
O primeiro dia rendeu dentro do esperado, pois era composto de cidades com acesso asfáltico e em boas condições de trafegabilidade. Uma região que eu conhecia, com algumas cidades onde eu havia estado muitas vezes. Já final da tarde, lembrei que era dia que eu teria de cortar meu cabelo, e ao entrar na cidade de Espumoso, avistei uma barbearia e parei para ver da possibilidade. O barbeiro me disse que sim e que havia um na espera. Eu decidi arriscar, fui até a prefeitura para o registro fotográfico e retornei à barbearia, onde felizmente, não havia chego nenhum outro cliente. Aguardei uns 20 minutos e consegui cortar o cabelo, para chegar na boca da noite em Tapera, onde pernoitei. Na contabilidade do dia foram 15 cidades visitadas.
A manhã do dia seguinte amanheceu com dia limpo, mas com temperatura baixa, o que me obrigou a colocar o foro de frio na jaqueta. Cheguei na primeira cidade, Lagoa dos Três Cantos, que ficava próxima, em torno de 7 km de distância. Cidade pequena de origem alemã, muito limpa e bem organizada.
Cabe ressaltar que toda região a percorrer, os municípios estão próximos, entre 7 km a 30 uns dos outros.
Depois de passar por Não-Me-Toque, uma cidade muito conhecida no RS, Brasil e exterior, pela Feira Expodireto Cotrijal, uma das maiores e mais importantes feiras do agronegócio internacional, onde se desenvolve muita tecnologia e negócios, segui para Victor Graeff. Cidade essa, que se destaca na região por possuir o jardim das esculturas, na praça central Tancredo Neves. São mais de 200 esculturas vivas de ciprestes, nas mais variadas formas. É o cartão postal da cidade para o turista.
Na cidade seguinte, Selbach, igualmente bem próxima, foi a vez de encontrar um lindo casarão de madeira em pleno centro da cidade. Por estar localizado em uma esquina importante da cidade, chama atenção dos visitantes.
A cidade de Fortaleza dos Valos além de possuir uma prefeitura com uma arquitetura muito bonita, também possui um belo interior, ou zona rural, como se chama no RS, com suas plantações exuberantes. E no meio dessas plantações fui forçado a parar para fotografar uma longa fileira de araucária, produzindo um visual belíssimo.
Quando eu comandei o GPS para me orientar no sentido de Ibirubá até a cidade de Colorado, ele me levou por uma estrada de calçamento de pedra irregular, pelo meio das plantações por aproximadamente uns 9 km. Eu já estava imaginando que aquele pavimento chegaria até a cidade destino, mas iniciou-se uma estrada de terra vermelha com trechos de cascalhão, que igualmente cortavam grandes plantações de trigo e milho, um cenário espetacular.
O final do dia terminei em Sarandi, onde pernoitei, totalizando mais 17 cidades.
Dia 09/10 a segunda cidade visitada, Barra Funda, com menos de 3 mil habitantes, mas muito bonita na sua organização. A prefeitura chama atenção pela grande torre, entre os dois belos prédios sede da Prefeitura, com suas pinturas coloridas, retratando aspectos econômicos do município, além de painéis e seus jardins floridos.
Quando retornava de São José das Missões, pela estrada de chão para voltar a BR 386, cruzei por um jovem morador passeando a cavalo, com seu filho. Não hesitei e fiz “meia volta” para conversar e fotografar. Uma cena comum de um domingo pela manhã naquela região.
Em Lajeado do Bugre encontrei a sede oficial da prefeitura em obras de ampliação, e após fotografar fui buscar informações onde estava instalada de forma provisória. Como a cidade é muito pequena, encontrei com facilidade.
Entre Cerro Grande e Liberato Salzano, a estrada não é pavimentada e no meio do caminho passa o Rio da Varzia. Ao lado da estradinha tem um balseiro que faz a travessia, com aquele tipo de balsa que utiliza um cabo de aço com roldanas e umas engenhocas, que faz a balsa navegar para o outro lado da margem, utilizando a correnteza do rio.
Terminei o dia com chuva em Trindade do Sul, cidade pequena, mas bonita e aconchegante. Fiquei em um ótimo hotel que encontrei buscando na internet, muito “top”, e diária com valor muito bom, Hotel Alvorada.
O dia 10/10 amanheceu chovendo e segui para Gramado dos Loureiros, que estava distante 12 km. Na minha chegada ao Município de Alpestre, logo depois de Planalto, a chuva ficou mais intensa e até a foto em frente a linda Prefeitura, foi difícil de registrar. E o pior foi colocar as luvas com as mãos úmidas, pois com a chuva também veio o frio.
Ametista do Sul também cheguei com chuva mais intensa, aí depois do registro na prefeitura resolvi conhecer o Complexo Belvedere Mina, Hotel e Restaurante Subterrâneo. Local muito bacana e de bom gosto, com atendimento ótimo. Como cheguei ao local antes das 11 h, acabei fazendo uma visitação completa, pois lá fora a chuva não dava trégua. Ao meio-dia aproveitei para almoçar em um local totalmente inusitado. Recomendo quem estiver passando pela região visitar, ou mesmo, fazer uma visita especifica.
Ao chegar em Erval Grande a chuva foi implacável e quase foi impossível fazer o registro. Tive que me abrigar em um Posto de Serviço que dispunha de uma pequena Conveniência, e aguardar por quase 40 minutos a chuva diminuir. Aproveitei para fazer um lanche e buscar alternativa para o próximo pernoite.
Como havia muitas cidades com acesso exclusivo por estrada de chão, e quem conhece a região sabe como se torna difícil trafegar com chuva, em razão do barro vermelho, decidi reorganizar o roteiro. Acabei chegando até Campina do Sul. Cidade pequena, com única opção de hotel, aos fundos de um Porto de Gasolina. Barato, mas muito fraco.
Fui fazer um lanche no único local aberto da pequena cidade com muita chuva, e graças a um frentista do Posto que me cedeu um guarda-chuva.
Nesse dia, em razão das várias cidades com acesso por rodovias não pavimentas e a chuva, foram 12 as cidades visitadas.
O dia 11/10 amanheceu da mesma forma, muita chuva. Após um café em uma confeitaria próxima ao hotel, decidi retornar para Santa Maria, pois as previsões eram de mais chuva para os próximos dias na região Noroeste. Segui em direção a Erechim, onde fiz um pit stop para registro, e rumei para Soledade, onde após contato com o Brother e também Fazedor de Chuva, Rui Dipp, que já me esperava para colocarmos a conversa em dia.
Nesse itinerário, ainda consegui registrar quatro cidades, apesar da chuva. No Município de Mormaço, pouco antes de Soledade, chovia tanto, que tive de pedir o apoio de um funcionário que saiu a porta para perguntar se eu precisava de algo. Pedi para conseguir um guarda-chuva e fazer uma foto minha em frente à prefeitura, quando fui prontamente atendido.
O Brother Dipp e Andi estavam, como sempre, me aguardando com muito carinho e ansiedade. De imediato a Andi e o Dipp me auxiliaram para desencadear uma verdadeira operação para secar minhas roupas, botas e luvas, pois praticamente eu não dispunha de nada seco.
E para minha surpresa, após essa operação, a Andi me apresentou um maravilhoso café da tarde, e dentre as várias iguarias maravilhosas, havia uma especial, quibe, feito carinhosamente por ela.
À tarde ainda fomos na Revenda Honda da cidade, para ver se eu conseguiria pneus para substituir, pois os meus já estavam com desgaste acentuado. Não encontrei e fiquei muito preocupado com as informações do vendedor, pois se tratava de uma das maiores Concessionárias Honda do RS. Tratei de ligar para várias Concessionárias e também lojas que conheço em Santa Maria, onde encontrei uma loja parceira dos Gaudérios do Asfalto, que tinha a pronta entrega os pneus que eu precisava.
Mas a surpresa estava por vir... no jantar a Andi me apresenta o prato principal, quibe cru, feito especialmente por ela, com todos os ingredientes preconizados para o verdadeiro quibe cru. Simplesmente espetacular! Estão me deixando mal-acostumado quando vou visita-los em Soledade... para completar o Dipp abriu um vinho argentino, muito bom. Tive que experimentar uma taça.
Após o jantar, foi o momento de trocarmos ideias para o futuro, e depois descansar com o sono dos justos.
Na manhã seguinte ainda persistia a chuva, já enfraquecendo. Fiz um roteiro para retorno a Santa Maria que abarcasse algumas cidades, totalizando 8. Cheguei em Santa Maria em torno das 17 h, quando fui direto até a prefeitura para fazer o registro, pois com as mudanças de planos em função da chuva, provavelmente eu não retornaria a minha cidade natal para fazer o último registro, da Prefeitura de Santa Maria.
Em Santa Maria, no dia 13 aproveitei para fazer a troca dos pneus da moto e coloquei algumas coisas para secar.
Dia 14, já com o roteiro reorganizado, retornei para a estrada, começando por Venâncio Aires. Cidade conhecida no RS por ser a capital nacional do chimarrão, de etnia predominante alemã, a qual conta com umas das mais belas igrejas do RS. A Igreja Matriz de São Sebastião Mártir é a segunda maior igreja no estilo neogótico da América Latina, e se destaca como um dos maiores símbolos da cidade, considerada a segunda mais bonita do RS, atrás apenas da Catedral São João Batista, de Santa Cruz do Sul.
Na mesma região, outra cidade, pequena é verdade, que chamou minha atenção foi Forquetinha. Também de etnia alemã, muito bonita, organizada e com a arquitetura de prédios públicos, e mesmo particulares, ao estilo germânico.
Quando parei na cidade de Progresso, por volta das 17 h, em frente à prefeitura retornavam para casa um grupo de alunos de uma escola próxima. Quando me enquadrei para fazer os registros, eles pediram para participar das fotos. Com muita alegria incluí eles juntamente no registro, pois sempre me anima ver o sorriso no rosto das crianças.
Aproveitei minha parada em Progresso para fazer um pequeno lanche, pois não havia almoçado. Enquanto eu aguardava o lanche e uma xícara de café, recebi uma mensagem do corretor que vendeu nosso apartamento em Santa Maria. Eu deveria assinar o contrato de financiamento do comprador junto ao banco, no dia 17, segunda-feira. Bem, aí foi mais alegria do que tristeza... teria que retornar, reorganizar o roteiro, mas o apartamento estava vendido!
Já no dia seguinte, ao sair da cidade Arvorezinha, outra que me deixou ótima impressão, pelo cuidado, organização, limpeza e pujança. Ao retornar a rodovia, encontrei uma pequena capela em homenagem a Nossa Senhora Aparecida. A placa existente abaixo do altar pede que abençoe os viajantes. Não teve jeito, foi parada obrigatória deste humilde motoviajeiro.
Seguindo para Ilópolis, bem próximo, cerca de 10 km, já na entrada da cidade encontro várias placas indicando o Museu do Pão. Mesmo me chamando a atenção, decidi primeiro ir fazer o registro na prefeitura, para só após, ir ao Museu para tentar conhecer.
Quando eu fazia uma série de fotografias do belo patrimônio municipal, que guarda a história dos imigrantes italianos na região, uma senhora saiu e perguntou se eu fazia parte do grupo que havia agendado a visitação ao Museu. Respondi que não, apenas era um motoviajeiro que estava registrando algumas fotografias. Ela me ofereceu para fazer a vista, pois ainda teria uns 10 minutos até a chegada do grupo.
Não perdi a oportunidade, e além das fotos internas do Museu, um casario antigo e restaurado, ainda recebi muitas informações durante o bate-papo, que foi regado com a cortesia de um ótimo café e umas bolachinhas deliciosas. Muito interessante, ainda voltarei para explorar melhor a região, que eu não conhecia.
Na passagem por Muçum, cidade que eu já havia registrado em outra incursão pelo RS, como o dia estava bonito, decidi fazer uma parada para registra o longo viaduto ferroviário que praticamente atravessa a cidade por inteiro, me aproveitando de um ótimo posicionamento no alto de um morro, por onde passa a estrada. Também entrei até a o local onde está a Estação Ferroviária de Muçum, de onde parte o passeio do Trem dos Vales, ligando Muçum até Guaporé, com um percurso de 46 km, passando por 23 túneis e 15 viadutos. É um dos lugares que quero retornar com a Wilma para fazer esse passeio. Lembrem-se sou filho de ferroviário...
Ao retornar de Protásio Alves para Nova Prata, por uma estrada de apenas 18 km, mas que desce e sobe um vale magnífico em razão do Rio da Prata, com curvas alucinantes e bem desenhadas para um motociclista de estrada. Na baixada do Rio da Prata que divide os dois municípios, está a Cascata da Usina.
Já na boca da noite cheguei em Veranópolis, onde fiquei para o pernoite. O dia me permitiu registrar 18 cidades, todas muito próximas.
Domingo, após o café da manhã, me preparei com um roteiro as presas para retornar a Santa Maria, apenas escolhi algumas cidades que estavam próximas ao caminho que eu escolhera para voltar, onde inseri apenas duas cidades com acesso de terra, mas com poucos km cada, não mais que 14 km.
Ao passar o pórtico da entrada de Serafina Correa, já é possível se encantar com a pequena cidade. O monumento a Nave dos Imigrantes, em homenagem a viagem histórica dos italianos que aportaram no Brasil, se instalando na região, é belíssimo. A cidade conta também com réplicas de prédios muito conhecidos da Itália, como o Castello Inferiore di Marostica, Casa Di Giulietta, La Rotonda e Casa di Romeo. Cidade encantadora e é conhecida como um pedacinho da Itália no Brasil.
Por volta das 17 h e 30 minutos já estava em Santa Maria, com planos mentais de na terça-feira retornar ao roteiro dos municípios do RS.
Em razão de alguns contratempos, típicos dos contratos, meu retorno as rutas só ocorreu na quarta-feira à tarde, dia 19.
Naquele mesmo dia consegui chegar até a cidade de Arvorezinha, pois ficava próxima da primeira cidade a ser visitada no dia seguinte, e também porque havia gostado da cidade. Por volta das 18 h e 10 min, eu já estava abastecendo a moto e buscando informações sobre hospedagem.
Ao chegar no Hotel Bei Monti, que foi indicado, além de ser ótimo, o proprietário e seus dois filhos são motociclistas e amantes por viagens. Conheci o Sr Luvis Vescovi (O Pisca) e o filho Lucas. Já ao estacionar a moto na garagem coberta, percebi uma área de lazer privada com decoração de temas de moto. Chegando mais perto, havia uma sala com um paredão de vidro, onde estavam estacionadas mais de 8 motocicletas Harley Davidson, impecáveis.
Após um banho reparador, encontrei o Luvis e o Lucas na portaria do hotel, e aí o papo foi longe... até esqueci de jantar. Quando lembrei já era tarde e só havia um local aberto. Por indicação do Lucas, me dirigi ao Kountry Beer, muito bom.
O café da manhã do hotel é bem diferente, tipo o verdadeiro café italiano, com produtos coloniais da região, muito interessante e delicioso. Recomendo.
Para fechar o Desafio Valente FC – RS, eu precisaria registrar as últimas 59 cidades restantes das 497. A primeira cidade do roteiro foi Nova Alvorada, com 18 km de estrada não pavimentada. Foi bem tranquilo, estrada com boa manutenção e o tempo estava ótimo, sem previsão de chuva para os próximos dias.
Na cidade de Marau, que é considerada polo da micro-região, bem desenvolvida e bonita, possuí a bela Igreja Cristo Rei construída pelos Freis Capuchinhos em 1.940, com a torre ao lado da Igreja, em substituição a antiga construção em madeira de 1.919.
A Rota das Salamarias, como é conhecida na região, você encontra trilhas que permite saborear, desde a cachaça, vinho e degustação de vários produtos coloniais, além do bom chimarrão, do artesanato e saborear maravilhosa culinária legada pelos italianos que colonizaram a região.
Mas o impressionando da cidade de pouco mais de 45 mil habitantes é a pujança de um parque industrial invejável, especialmente nos setores de alimentos, metal-mecânico, couro, entre outros. Conta com mais de 200 empresas, destas, umas 10 de grande porte. Bela e pujante cidade.
Ao passar por Ciríaco, resolvi almoçar, o que normalmente não faço em viagem. Ocorreu que quase ao lado da prefeitura, havia um restaurante bem típico do interior e resolvi experimentar. Comida bem caseira e muito saborosa. Quando eu estava me equipando para partir, chegou um senhor aparentando uns 45 anos, se apresentou como motociclista, de início meio tímido, mas como acabei dando atenção a ele, o papo foi fluindo e bem bacana.
Em Água Santa, após registrar a prefeitura, com linda arquitetura e construção nova, passei em uma esquina, no centrinho da cidade, e registrei o prédio onde funciona os Correios. Casario antigo em madeira, de dois pisos, relativamente bem conservado, faltando uma boa pintura.
Em São Jorge, o prédio da prefeitura é bem acanhado, possivelmente locado. O novo prédio está em construção e parece que será um edifício moderno e com capacidade de centralizar as secretárias existentes, desse jovem município que foi criado em 1.987.
Após um longo trecho de estrada não pavimenta para chegar a André da Rocha e também Muitos Capões, acabei ficando nesta última, pois já se iniciava um “chuvisco” e era final da tarde. Aí quando fui verificar onde pernoitar, me dei conta que a cidade é muito pequena. Até 1.996 era uma pequena vila, ano em que se emancipou, e que além do nome, não mudou muito. Praticamente sem infraestrutura.
Descobri uma pousada com pequenas cabanas, mas como o proprietário reside em Vacaria, não foi tão fácil conseguir estabelecer essa ligação. Após o auxílio de uma gentil senhora que conhecia os proprietários, me foi informado que seria possível o pouso, e que eu aguardasse nas cabanas que a funcionária iria para o local. Como a cidade é pequena, não tardou mais que 10 minutos e tudo ficou bem. As cabanas são simples, mas aconchegante, confortável e limpa. O café da manhã é extremamente simples, mas servido com esmero pela funcionária. Tudo certo.
Assim, encerrei o dia com o registro de 17 cidades. Ufa...
O dia 21/10 seria duro, pois havia na sequência de muitas cidades sem acesso pavimentado.
O tempo se manteve firme e as estradas estavam em boas condições, me permitindo manter um bom ritmo de viagem, e claro, a moto menor e macia, auxilia muito. Assim, fui registrando além das prefeituras algumas paisagens, prédios e situações que me despertavam a atenção, como um lindo casarão de dois andares, em madeira, muito bem conservado, no Município de Tupanci do Sul, um outdoor de campanha à Presidência da República, censurado pela juíza eleitoral de São José da Urtiga, e o belíssimo Santuário de Nossa Senhora de Caravággio, em estilo gótico, no Município de Paim Filho, está entre as 10 igrejas mais lindas do RS.
No finalzinho da tarde, concluí o dia em Tapejara, que é uma bela cidade, repetindo a cifra do dia anterior, com mais 17 cidades.
Naquela noite acabei dormindo um mais pouco que o habitual, e no domingo 22/10, acabei saindo mais tarde para a ruta, afinal faltavam apenas 25 cidades e eu já entrava no clima de acabou, acabou ...
Cheguei a Vila Lângaro por voltas 10 h, mesmo que a distância entre as cidades era de apenas 15 km. Já estava me sentindo “de sangue doce”, um dito popular do RS, tranquilo, com o desafio sob controle e o clima ajudando para que a viagem ocorresse de forma prazerosa. É tudo que um motoviajeiro quer.
Em Floriano Peixoto parei para registrar as paisagens, onde se destacavam as araucárias, os campos e as plantações de trigos, cortadas por estradas de terra, que pareciam pintura em uma moldura.
No Município de Estação, a Estação Ferroviária que deu origem ao nome da cidade, é carinhosamente preservada, mantendo sua imponência e importância histórica para a região. Estação se destaca desde o ano de 1.910, quando foi inaugurado ramal ferroviário entre Passo Fundo e Marcelino Ramos, e passou a se transformar em um importante ponto de produção de inúmeros produtos, e comércio. Até indústria havia, como a Cooperativa de Produção de Banha Sant’Ana Ltda – COOBANHA. Esse ramal ferroviário norte, se tornou importante pela ligação com Santa Catarina.
Cheguei ao Município de Quatro Irmãos por volta das 13 h. Quase em frente à sede da prefeitura, havia um grande cassarão muito bonito e preservado em uma esquina, que tão logo fiz os registros da prefeitura, atravessei a rua para saber sobre a construção. Trata-se do Centro de Cultura Leopoldo Cohen reinaugurado em 2012, onde funcionava o Hospital Leopoldo Cohen, construído em 1932, pelos imigrantes judeus que haviam se instalado na região em 1.911.
O prédio ficou muito bem restaurado, segundo informações, custou mais de 500 mil reais de investimentos de um Instituto Cultural Judaico.
Cabe referir que os primeiros imigrantes da comunidade judaica a se instalar no RS, foi na minha cidade natal, Santa Maria, no ano de 1.904, na Colônia Philippson, onde fundaram a primeira escola judaica. O Cemitério Israelita ainda hoje se encontra bem preservado em Philippson. Atualmente a região pertence ao Munícipio de Itaara, que até o ano de 1.997, era Distrito de Santa Maria.
Ao chegar no Município de Viadutos, me deparei com o Pórtico da cidade em um formato inusitado. Parei para registrar aquela obra, que obviamente chama a atenção dos “forasteiros”, com o seu formato similar a ponte férrea de Anta Mansa, que se situa na saída para a cidade Marcelino Ramos, e vagões de passageiros com uma máquina a vapor. Sem sombra de dúvida, que a implantação em 1.910 da malha ferroviária na região, marcou e impulsionou o crescimento do Noroeste do RS e Oeste de Santa Catarina.
Fiquei feliz com esse resgate histórico daqueles longínquos tempos, de estrema dificuldades, mas de muito trabalho e progresso da região.
Depois de registrar a Prefeitura de Marcelino Ramos, retornei até Erechim, onde pernoitei. A conta do dia foi de mais 15 cidades, o que significava restar apenas 10 para o último dia, e assim fazer o fechamento das contas para o Valente FC – RS.
Às 9 h e 30 min do dia 23/10, eu já estava fotografando a Prefeitura de Aratiba, quase na divisa com SC. Depois foi aquele vai e volta, um zigue-zague até o meio da tarde, com várias estradas sem pavimento, algumas em obras de pavimentação asfáltica, mas de modo geral, estradas transitáveis a qualquer veículo, sem chuva.
Ao entrar no centro cidade de Três Arroios, me chama a atenção a belíssima Igreja de Santa Izabel de Hungria, que data de 1.940. Ao lado está localizada uma bela construção que abriga a Casa da Cultura, muito bem preservada. Conversando com uma senhorinha que se dirigia para a Igreja, perguntei sobre a casa, e ela comentou que foi construída juntamente com a Igreja para abrigar a Casa Paroquial, e a poucos anos, depois de passar por restauração, foi cedida à prefeitura. Realmente muito bonita, imponente e de bela arquitetura, com jardins que adornam e embelezam ainda mais o conjunto e o visual.
Depois foi seguir o rumo de Severiano de Almeida e fechar o desafio em Mariano Moro, distante 15 km, e muito próximo da divisa com SC.
Mais um Ufa... mais um desafio concluído, com muito foco, determinação e planejamento. O resultado foi a satisfação do sucesso, sempre agradecendo a luz e a benção do Supremo Criador.
Bem, minha ideia inicial era concluir o desafio em minha cidade natal, Santa Maria, mas em razão dos compromissos que me fizeram retornar duas vezes, acabei tendo que reorganizar e realinhar o planejamento. Não sendo possível dessa forma, decidi postar os registros de Santa Maria ao final das postagens no site dos Fazedores de Chuva, assim, poderia agregar mais alguns registros fotográficos, além de dar o devido destaque a minha cidade natal.
Por fim, cabe destacar que esse Desafio em especial, no momento temporal em que me encontro nessa caminhada terrena, foi fantástico, e me fez relembrar 63 anos de vivência, convivência, estudo, trabalho, formação de família e lazer, nesse querido Estado onde nasci.
Repassar as cidades que eu conhecia muito, outras menos, e as poucas que não conhecia, foi um presente que me permiti, com a graça do Altíssimo, mesmo sem ter essa noção ao iniciar o desafio.
Hoje não tenho dúvidas da importância que foi poder conhecer cada canto do Estado, do conhecimento agregado com o meu olhar, com o meu sentir. Digamos que foi uma retrospectiva do tempo em que vivi no RS. Emocionante! Simples assim.
BoraBora para o Paraná ...
Até lá, até, até lá.
Fraterno motoabraço.
Mensagem do nosso moderador e amigo Gilmar Dessaune, por ocasião da homologação do desafio.
" Boa tarde, agora, Valente Fazedor de Chuva Rio Grande do Sul Renato Lopes,
Quem nasceu no "coração do Rio Grande do Sul" dispõe de um enorme coração que foi capaz de conquistar todo o resto do corpo de forma espetacular. Parabéns!!!
Já é uma marca registrada de suas aventuras a riqueza dos registros e relatos magníficos de leitura fácil e catalizadora, um dom extra que nos brinda em cada jornada compartilhada aqui no TFC. Muito obrigado!!!!
Rodar por 497 municípios de um estado imenso, rico em tudo que se possa imaginar e relatar com maestria é um legado que deixa para todos nós e também um ensinamento de como fazer um desafio. Excelente!!!
Adjetivar tais jornadas é uma dura tarefa, pois não somos capazes de traduzir em palavras toda a magnitude que nos deparamos.
Vários registros nos fazem quer "estar ali" e cito apenas dois como exemplo: a foto da estrada no meio da plantação em Dois Irmãos das Missões e as fotos em Ametista do Sul. Fenomenais!!!!
Como um verdadeiro filho pródigo, voltou à terra e desbravou todo o quintal da outrora casa, mas que certamente jamais saiu de seu coração. Tanto que deixou o fechamento para onde tudo começou em sua vida.
Sua capacidade de realizar nos inspira e sua competência nos leciona.
Também catalisa amigos pelo cominho o que tornou a aventura ainda mais nobre, pois mais importante que os km rodados são os sorrisos e abraços apertados ao longo dela.
Dá um polimento todo especial em seu nome na Elite do Motociclismo Mundial, esse grupo de Adoráveis Insanos que viajam mundo afora sobre duas rodas com motor realizando o que "qualquer um pode fazer, porém, poucos o fazem...".
Desta forma, só nos resta colocar a foto escolhida por você para eternizar esse momento da homologação:
Pode comemorar, essa vitória é toda sua e jamais lhe será tirada.
Muito obrigado por compartilhar conosco suas aventuras.
Que venham muitas outras, sua capacidade é por todos conhecida e respeitada.
Mais uma vez PA-RA-BÉNS!!!!
Abração e bon voyage!!!
Controle: Homologação nº 098/2022 "